Controle tardio de capim arroz com glifosato - Glifosato, o herbicida que mudou a história

Glifosato, o herbicida que mudou a história

Registrado no Brasil sob 115 marcas comerciais, o glifosato está no mercado desde os anos 70, sendo fortemente associado a sistemas conservacionistas de semeadura. Mas, foi a plataforma biotecnológica Roundup Ready que conferiu ao glifosato o status de herbicida mais utilizado no mundo. Como resultado, suas projeções de vendas só aumentam.

Em resumo, um bom motivo para você conhecer melhor esse herbicida!


Conheça e aplique melhor é uma série de conteúdos do WeedOut que vai apresentar as principais características técnicas e que influenciam na performance dos herbicidas. Para ver todas as publicações dessa categoria, clique aqui.


Histórico

Descoberto na indústria farmacêutica nos anos 50, porém sem aplicação identificada nesse mercado, o glifosato foi vendido como descarte para outras companhias. Em 1970, teve sua atividade herbicida constatada por John Frantz, sendo então formulado e vendido como Roundup pela Monsanto em 1974.

Como é um herbicida não seletivo, os usos do glifosato permaneceram restritos a operações de dessecação e em áreas não agrícolas. Porém, tudo mudou com as culturas geneticamente modificadas para resistir ao herbicida, dando início a um novo capítulo para essa história. E, consequentemente, para a história da ciência das plantas daninhas.

A partir de então, a quantidade aplicada de glifosato cresceu mais de 12 vezes. Como resultado da superconfiança e uso quase que exclusivo desse consistente herbicida, os casos de resistência também multiplicaram. Esse cenário tem conduzido a alteração da composição florística e ao aumento do uso de outros herbicidas para complementar seu espectro de ação. Nesse contexto, novas plataformas biotecnológicas foram desenvolvidas e o mercado dos royalties foi consolidado.

Como o glifosato controla as plantas?

O herbicida é o único portador do mecanismo de ação do Grupo G, segundo o HRAC. Uma vez absorvido pela planta, o glifosato inibe a atividade da enzima 5-enolpiruvil-shikimato-3-fosfato sintase (EPSPs), no cloroplasto. Esse processo acontece no início da rota do ácido shikimico e como resultado, os aminoácidos aromáticos fenilalanina, tirosina e triptofano deixam de ser produzidos. Além de afetar a síntese de proteínas, essenciais ao crescimento das plantas, inúmeros outros compostos deixam de ser produzidos. Assim, diversos efeitos secundários do glifosato são também verificados.

Em outras palavras, é como se a planta além de ter seu sistema “imunológico” debilitado, morresse por inanição.

Ocorre inibição do crescimento logo após a aplicação, seguida por clorose generalizada, que evolui para necrose em 7 a 21 dias, dependendo da suscetibilidade da planta daninha. Inicialmente, os sintomas são mais acentuados nos pontos de crescimento e tecidos jovens.

Controle tardio de capim arroz com glifosato 1 - Glifosato, o herbicida que mudou a história
Figura 1 – Sintomas de glifosato em aplicação tardia em plantas de capim-arroz.

Usos do glifosato

É um herbicida não-seletivo e pós-emergente, tendo como alvo, a parte aérea das plantas daninhas. É amplamente utilizado para a dessecação, em pré-semeadura ou em pulverizações direcionadas. Geneticamente modificados, como soja, milho e algodão permitem sua utilização em pós-emergência da cultura. Também é utilizado na dessecação em uma estratégia conhecida como “ponto-de-agulha”, ou seja, em pós-semeadura, porém, imediatamente antes da emergência da cultura suscetível. São verificados ainda, usos em pré-colheita e como maturador.

Características físico-químicas

Glifosato ácido - Glifosato, o herbicida que mudou a história
Figura 2 – Molécula de glifosato, em sua forma ácida. Fonte: Herbicide Handbook, 2007.

Glifosato é o nome comum para o composto químico N-(fosfonometil)glicina (Figura 2). No Brasil, está registrado sob as estruturas químicas de sal de dimetilamina, sal de amônio, sal de di-amônio, sal de isopropilamina e ainda, sal de potássio. Isso significa que na formulação, um ou mais átomos de hidrogênio são substituídos por um desses sais.

Sendo um ácido fraco, está sujeito às variações de pH do meio, principalmente da calda. É polar e hidrofílico, ou seja, um dos herbicidas com maior solubilidade em água. Além disso, sua baixa pressão de vapor o torna um herbicida pouco volátil. As características físico químicas do glifosato estão na figura 3.

Série Mistura de tanque glifosato - Glifosato, o herbicida que mudou a história
Figura 3 – Características físico-químicas do glifosato. Fonte: Herbicide Handbook, 2007.

Comportamento nas plantas

Glifosato é absorvido pela parte aérea das plantas e devido às suas características físico-químicas, tem a penetração facilitada por surfactantes e sulfato de amônio. Um transportador fosfato auxilia o movimento para dentro da célula.

A translocação ocorre via simplasto, com movimento predominante para as regiões de maior demanda de fotoassimilados. Em função disso, o estágio de desenvolvimento e o metabolismo da planta acabam por interferir no controle.

A baixa metabolização mantém os níveis fitotóxicos. É convertido, principalmente, para ácido aminometilfosfônico (AMPA), que também possui atividade fitotóxica.

Comportamento no solo

Devido ao grupo fosfônico da molécula, o glifosato é rápida e fortemente adsorvido ao solo, pelos mesmos sítios de ligação do fósforo. Como resultado, não é biodisponível na solução do solo, portanto, sem nenhum efeito residual.  Também em função disso, possui baixa mobilidade. Porém, pode ser transportado juntamente com partículas de solo em eventos de escorrimento superficial, como consequência de precipitações de alta intensidade.

É degradado pelos microrganismos do solo e da água, tendo moderada persistência.

Fatores que afetam a performance do glifosato

Os herbicida estão sujeitos a uma série de fatores que podem afetar o controle de plantas daninhas e a seletividade para culturas.

Formulações

Um produto comercial é composto pelo ingrediente ativo/equivalente ácido e pelos ingredientes inertes. Estes últimos variam dentre as formulações e marcas e, efetivamente, diferenciam a entrega de resultados do produto. Como exemplo, existem no mercado produtos que necessitam de um intervalo de apenas uma hora sem chuva, enquanto outros têm seu controle comprometido se ocorrer chuva antes de seis horas após a pulverização. Vale a leitura do rótulo e indicações do fabricante!


Para saber mais sobre formulações de herbicidas, basta clicar aqui.


Qualidade da água

Os sais de cálcio e magnésio dissolvidos na água dura afetam a atividade do glifosato. Esses sais tem a capacidade de se associar com o herbicida, tornando-o menos disponível para as plantas. O mesmo ocorre com alguns adjuvantes presentes na formulação, comprometendo a absorção e o tempo de permanência da gota. Isso ocorre principalmente em águas com pH superior a 7,0. O que não é frequente no Brasil, uma vez que nossas águas são, em sua maioria, brandas ou muito brandas.

Além disso, partículas e sedimentos de solo em suspensão também reduzem a biodisponibilidade do herbicida. Novamente, o fabricante aponta as medidas necessárias no rótulo de cada marca comercial.

Volume de calda

Maior eficiência de controle do glifosato tem sido atribuída a menores volumes de calda. É pragmático pensar sobre as seguintes situações:

  1. 2 L de produto comercial a base de glifosato em um volume de calda de 200 L/ha.
  2. 2 L de produto comercial a base de glifosato em um volume de calda de 100 L/ha.

No primeiro caso, temos uma relação de 1%, enquanto no segundo, a proporção é de 2% (v/v).

A passagem do herbicida pela cutícula e parede celular é um processo de difusão, orientado pela diferença de concentração. Da maior, para a menor concentração. Pela lógica, a absorção se beneficiaria da segunda condição.

A diluição também ocorre para todos os ingredientes inertes, que são, em sua maioria, surfactantes e aditivos decisivos para a melhor performance do herbicida. Alguns autores afirmam que aqui estaria a maior contribuição de reduzir os volumes de calda para pulverizar glifosato.

Outro ponto a considerar são os sais e coloides antagonistas dissolvidos na água. Teoricamente, no primeiro caso, o teor seria o dobro, reduzindo a biodisponibilidade do glifosato em relação a situação 2.

Convém destacar que tão importantes quanto as considerações acima, são a cobertura do alvo e o ajuste do volume de calda para atender as exigências da mistura de tanque. Uma vez que, raramente glifosato é aplicado isoladamente.

Hora do dia

A posição das folhas varia ao longo do dia, como resultado da disponibilidade de luz. Aplicações de glifosato ao amanhecer ou anoitecer podem ser menos efetivas para espécies que orientam verticalmente suas folhas nesses horários. Isso ocorre em função de uma menor deposição do herbicida. Plantas daninhas da família Fabaceae, como o anjiquinho, possuem expressivo movimento das folhas.

Além disso, muitos processos fisiológicos são afetados pela luz, influenciando o movimento de produtos que translocam associados aos fotoassimilados.

Ambiente

A comunidade de plantas daninhas é composta por uma diversidade de espécies, em diferentes estágios de desenvolvimento. Prever a resposta de cada uma delas as variações ambientais antes, durante e depois da aplicação ainda não é praticável no campo. Contudo, a indicação é aumentar a dose de glifosato, dentro do recomendado, sempre que a aplicação em condições de estresse for inevitável.

Além disso, qualquer condição que reduz o crescimento das plantas, reduz a eficiência do glifosato. Assim, é provável que o desempenho do herbicida sobre espécies de difícil controle seja mais fortemente afetado pelo ambiente do que em espécies altamente suscetíveis.

Resistência de plantas daninhas ao glifosato

Atualmente, são 15 os relatos de resistência ao glifosato no Brasil. Dentre as espécies estão o azevém (Lolium perenne ssp. multiflorum), buva (Conyza bonariensis, C. canadensis e C. sumatrensis), capim-amargoso (Digitaria insularis), capim-branco (Chloris elata), caruru-gigante (Amaranthus palmeri) e capim pé-de-galinha (Eleusine indica). Além desses, é relatada resistência múltipla em caruru-gigante, capim pé-de galinha e em dois biótipos de azevém, assim como, dois de buva, na espécie C. sumatrensis.

Os principais mecanismos de resistência ao glifosato são mutações no sítio de ação, amplificação gênica e translocação alterada devido ao sequestro do herbicida. Nós preparamos uma revisão completa sobre o assunto em “Entenda a resistência ao glifosato e esteja um passo à frente “.

Literatura consultada:

AGROFIT. Sistema de agrotóxicos fitossanitários. Disponível em: http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons. Acesso em: 16/04/2019.

BENBROOK, C. M. Trends in glyphosate herbicide use in the United States and globally. Environmental Sciences Europe, v. 28, n. 3, p. 1-15, 2016.

HEAP, I.  The International Survey of Herbicide Resistant Weeds. Disponível em: www.weedscience.org. Acesso em 17/04/2019.

SENSEMAN, S. A. (Ed.). Herbicide handbook. 9.ed. Lawrence: Weed Science Society of America, 2007. 458 p.

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