Como diagnosticar a resistência a herbicidas

Sinais da resistência a herbicidas: você sabe identificar?

A resistência a herbicidas é um dos grandes desafios da agricultura e o Brasil é o quinto país em número de casos. Até o momento, são 50 relatos ao International Survey of Herbicide Weeds e as expectativas são de que novos casos sejam confirmados em breve. Assim, uma questão fundamental é: você sabe reconhecer os sinais da resistência a herbicidas?

Nesse artigo, nós indicamos o caminho a ser seguido para diagnosticar as causas das falhas de controle. Nele, você vai ler sobre:

  • A importância de vistoriar as áreas após o controle químico.
  • Como identificar a resistência a herbicidas no campo.
  • Procedimentos para confirmar a ocorrência de resistência.

O que você faz após a aplicação de herbicidas?

Empiricamente, em termos de plantas daninhas, focamos em um problema: minimizar a interferência!

Traçamos estratégias e executamos um planejamento para evitar ao máximo a redução do potencial produtivo pela competição. Assim, as vistorias para determinar as espécies e sua distribuição são frequentes no pré-estabelecimento e estágios iniciais da cultura.

Mas e depois?

Detectar falhas de controle, espécies que emergiram tardiamente, ao longo do ciclo da cultura é tão importante quanto! E, as vistorias após a aplicação dos herbicidas são essenciais para entender causas e identificar os padrões de distribuição das espécies presentes.

Além disso, as vistorias ajudam a documentar as mudanças na população, em respostas às práticas de manejo adotadas. Inclua aqui, alterações no comportamento em relação aos herbicidas.

A partir das vistorias pós-controle, você poderá traçar estratégias para evitar a produção de sementes a partir de escapes.

Lembre-se que controlar a faísca é sempre mais eficiente, rápido e barato do que lidar com o incêndio estabelecido!

Agora que você já tem muitas razões para realizar vistorias após o controle químico, saiba a forma adequada de executá-las.

Como realizar a vistoria

Sete dias após cada aplicação é um bom intervalo de tempo para iniciar o acompanhamento da evolução do controle, estabelecendo intervalos regulares. Mantenha as vistorias ao longo do ciclo para monitorar emergências tardias.

Em herbicidas de contato, como o paraquat, é possível visualizar a ação rapidamente. Por outro lado, em alguns sistêmicos como o glifosato, o controle será evidenciado a partir da segunda ou terceira semana.

Caminhe de forma a cobrir representativamente toda a área. A concentração em bordaduras ou áreas mais problemáticas afetará o diagnóstico.

Esteja atento e registre:

  • Espécies presentes
  • Padrões de distribuição espacial (reboleiras, em área total, regularidade, etc)
  • Densidade
  • Controle
  • Como são os sintomas dos herbicidas e o comportamento das plantas que sobreviveram

Nós selecionamos 15 aplicativos que podem auxiliar na identificação e até mesmo no mapeamento das plantas daninhas pela área. Para acessar, basta clicar aqui.

Investigue as razões

Para determinar as causas de falhas no controle e a presença de plantas daninhas na área, comece pelo:

Histórico da área

Sabemos que a simplificação das práticas de manejo aumenta muito os riscos de resistência a herbicidas. Logo, buscar informações no histórico da área sobre os mecanismos de ação, as culturas, as práticas mecânicas e culturais, assim como, as espécies darão um direcionamento.

Biologia das plantas daninhas presentes

Conhecer a biologia ajudará a determinar o momento da emergência, em relação a aplicação dos herbicidas. Além disso, é fundamental para entender o comportamento em relação aos herbicidas com ação no solo.

A biologia também auxilia na diagnose de vieses de aplicação, como em estágios avançados e em plantas daninhas tolerantes.

Ambiente

Avalie sempre a umidade do solo, antes e depois da aplicação. Ainda, restos culturais podem interferir na ação de herbicidas residuais, sendo sua eficiência dependente de chuva em alguns casos. Por outro lado, precipitação logo após a aplicação pode lavar os produtos antes da absorção ocorrer.

Qualquer estresse, antes ou depois da aplicação, afeta o desempenho de controle.

Problemas na aplicação

Podem estar relacionados aos equipamentos, à escolha do herbicida, doses e produtos adicionados à calda, incorporação e condições do solo.

Questões pontuais podem afetar negativamente os resultados. Veja alguns exemplos:

  • Pontas obstruídas causam faixas com ausência total de controle.
  • Erros de calibração podem levar a doses insuficientes para ação herbicida. Por outro lado, doses elevadas podem causar injúria na cultura.
  • Poeira nas folhas e sais dissolvidos em água podem reduzir a eficiência de alguns herbicidas.
  • A baixa cobertura do alvo de pulverização afeta o controle com herbicidas de contato.
  • Umidade insuficiente do solo impede a absorção de herbicidas pré-emergentes.

Práticas culturais

O espaçamento entre as linhas de semeadura afeta, além do alcance das gotas pulverizadas, o fechamento da entrelinha e sombreamento das plantas daninhas que emergiram tardiamente.

Além disso, práticas como a adubação nitrogenada e a inundação, no caso de culturas irrigadas,  afetam diretamente a eficiência de controle.

Esteja atento aos padrões

Porque nem toda falha de controle é indicativo de resistência!

A exemplo, a presença de múltiplas espécies após a aplicação pode indicar a escolha inadequada do(s) herbicida(s). Além disso, nos afasta da hipótese da seleção de resistência em uma espécie, pela pressão imposta pelo controle químico.

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A emergência de novas plantas apontam para ausência de atividade herbicida no solo.

Ainda, distribuições espaciais uniformes, que não são comuns às plantas daninhas, apontam para a interferência de fatores externos.

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Por exemplo, o amassamento pelos pneus dos equipamentos de pulverização favorecem a germinação e estabelecimento de espécies sensíveis a luz.

E lembre: se depois de uma estratégia de controle a resposta da população for uniforme, você provavelmente não terá um caso de resistência. Porém, algum erro na aplicação!

Correlacione sempre o padrão visualizado no campo com a trajetória da pulverização.

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Na natureza, você raramente encontrará padrões geométricos e uniformes. Falhas como a da foto resultam de entupimento de pontas, oscilações na pressão, etc.

Além disso, a composição da comunidade de plantas daninhas presentes na área pode advir do uso repetido de algumas práticas. Isso pode ocorrer, por exemplo, pelo uso contínuo de um herbicida para o qual determinadas espécies são tolerantes. Ainda, por doses que permitem a sobrevivência de determinadas espécies, ou também, pelo uso de pós emergentes em estágios avançados de crescimento.

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Dominância de corda-de-viola tolerante ao herbicida glifosato.

Erros que levam à falhas no controle são muito mais comuns do que a resistência. Por isso, investigue todas as possíveis causas que podem ter levado ao efeito visualizado no campo.

No entanto, alguns padrões devem acender o alerta!

Sinais da resistência a herbicidas

Por exemplo, quando a comunidade infestante é controlada satisfatoriamente, no entanto, indivíduos de uma espécie apresentam comportamento diferente. Nesse caso, alguns morrem e outros podem manifestar leve ou nenhuma injúria, mesmo estando lado-a-lado.

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Outro dos sinais da resistência a herbicidas é a resposta diferencial entre indivíduos próximos. Nesse caso, buva ao glifosato.

Porém, dependendo do nível de resistência, você observará comportamentos diferentes no campo.

  • Alto nível de resistência: praticamente não existe um comportamento intermediário. Haverá plantas mortas e plantas sem sintomas ou com baixíssima evidência de sintomas. Não é regra, mas é comum na rápida evolução da resistência baseada em alterações no sítio de ação, como em inibidores da ALS e ACCase.
  • Baixo nível de resistência: os indivíduos apresentam diferentes percentuais de controle, variando desde a ausência de sintomas até a morte. O comportamento intermediário é muito comum nesse caso. A intoxicação fica evidenciada, porém não é suficiente para causar morte.

Além disso, o padrão de distribuição é inicialmente aleatório, com algumas plantas que se destacam na paisagem da lavoura. Esse cenário costuma ser mais evidente no final do ciclo.

Porém, com a dispersão de pólen e das sementes, a formação de reboleiras de plantas daninhas resistentes é comum.

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Reboleira de arroz daninho resistente a imidazolinonas, um grupo químico dos inibidores de ALS.

 E quando medidas para conter a dispersão da resistência são ignoradas, a lavoura pode ficar assim:

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A dominância de poucas ou uma única espécies é um dos sinais da resistência a herbicidas.

Por isso estar atento aos primeiros sinais da resistência a herbicidas é fundamental. Ao vistoriar e percebê-los, até mesmo o arranquio manual daquelas poucas plantas iniciais tem um grande impacto na lucratividade futura!

Confirmando a resistência

Quando os sinais da resistência a herbicidas são evidentes, um estudo detalhado é importante para avaliar o comportamento das plantas em relação as alternativas de controle químico disponíveis.

Contate imediatamente a assistência agronômica. Os procedimentos cabíveis para a confirmação ou o correto encaminhamento serão indicados.

Instituições de pesquisa e universidades públicas e privadas costumam desenvolver os protocolos necessários para o relato da resistência. Isso inclui ensaios de dose-resposta, para determinar no nível de resistência a diferentes herbicidas, grupos químicos e mecanismos de ação.

Além disso, é necessário comprovar a herdabilidade da habilidade de sobrevivência adquirida. Ou seja, os descendentes também deverão ser avaliados. Ainda, os possíveis mecanismos, sempre que possível, devem ser estudados.

No campo

A assistência técnica poderá conduzir ensaios em campo, comparando a resposta das plantas com sinais da resistência a herbicidas dentro da lavoura, com o comportamento de indivíduos suscetíveis da mesma espécie, em área adjacente.

Em vasos

Ainda em nível de propriedade, um estudo mais detalhado pode ser realizado ao expor plantas produzidas a partir das sementes das supostamente resistentes. Colete também sementes de plantas adjacentes e sensíveis da mesma espécie.

As plantas devem ser expostas aos herbicidas de interesse e a resposta de ambos os biótipos deverá ser avaliada.

Infelizmente, essa investigação ainda não é tão acessível e frequente em nível de campo. Porém, a determinação antecipada da resposta do suposto biótipo resistente aos herbicidas que entrarão no planejamento do manejo pode evitar muitas perdas devido à ineficiência de controle.

Dessa forma, vistorias são fundamentais para identificar antecipadamente os sinais da resistência a herbicidas na lavoura. Porém, tão importante quanto identificar falhas é o correto diagnóstico das suas causas.

É um boa prática que deverá ser executada periodicamente na área, ultrapassando o limite estabelecido pelos ciclos das culturas ou período após o controle.

Tenha em mente: a resistência é um problema da sua área, não da sua cultura!

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