a imagem apresenta botões florais da planta daninha buva (conyza ssp.).

Plantas daninhas: vá além de prevenir a interferência

Sabe por que os assaltos a bancos têm alto índice de sucesso? Porque há uma rotina previsível a ser seguida. Sabe por que as plantas daninhas roubam seu lucro tão facilmente? Pelo mesmo motivo!

As plantas daninhas têm a capacidade de se adaptar a qualquer prática de manejo empregada repetidamente. Quer ver?

imagem de plantas daninhas que sobreviveram a sucessivas aplicacoes de glifosato - Plantas daninhas: vá além de prevenir a interferência
Figura 1 – Plantas daninhas que sobreviveram à sucessivas aplicações de glifosato.

Após sucessivas aplicações de um mesmo herbicida algumas delas evoluem até adquirir a habilidade de resistir.

Mas engana-se quem pensa que esse comportamento é exclusividade da aplicação contínua de um mesmo herbicida.

Populações de capim-arroz e arroz daninho, constantemente selecionadas pelo arranquio manual em função da maior altura, tornaram-se pouco diferenciadas em relação à estatura do arroz cultivado.

Assim, sejam quais forem as práticas de manejo adotadas, se empregadas repetidamente, as plantas daninhas vão responder.

Ainda duvida? Entenda a resistência ao glifosato e esteja um passo à frente.

Herbicidas são recursos preciosos. No entanto, apenas enquanto as plantas daninhas forem suscetíveis a eles. E a resistência múltipla tem reduzido progressivamente esse valor.

Dessa forma, prevenir apenas a redução da produtividade pela competição ou pelos efeitos alelopáticos das plantas daninhas nas culturas, deixou de ser o único objetivo do manejo.

Porém, para obter sucesso, é importante reconhecer algumas características desse sistema.

Comece pelas conexões

A ação humana é a principal força condutora da evolução.

Por exemplo, quando viabilizamos as melhores condições para as culturas, o fazemos também para algumas plantas daninhas. E elas são hábeis em aproveitar essas oportunidades!

Assim, as decisões sobre o manejo intencional sempre geram efeitos não intencionais. Dentre esses efeitos, está a seleção de um conjunto de características, levando à predominância de algumas espécies típicas, nos diferentes sistemas de cultivo.

O manejo de plantas daninhas não deve mais ser entendido como a aplicação de práticas e técnicas pontuais durante o ciclo de cada cultura. Pelo contrário, essas práticas previsíveis, principalmente quando isoladas, amplificam os efeitos não intencionais.

Em mais um exemplo, o aguapé-de-flecha ou sagitária é uma planta daninha aquática que foi favorecida pelo sistema de plantio de arroz pré-germinado, utilizado para o manejo de arroz daninho. Aliado ao super uso de herbicidas inibidores da ALS e a resistência, hoje consiste em um grande desafio para os orizicultores.

imagem de sagittaria montevidensis na cultura do arroz irrigado - Plantas daninhas: vá além de prevenir a interferência
Figura 2 – Sagittaria montevidensis na cultura do arroz irrigado.

Além da lavoura

Além disso, as conexões do manejo não estão restritas à lavoura. 

Pense sobre a adoção generalizada de culturas resistentes ao glifosato e como transformou os sistemas de cultivo e o uso de herbicidas.

Também, na expansão da cultura da soja em razão da maior rentabilidade. Como essas escolhas transformaram a paisagem, em seus diferentes níveis?

Em decorrência, a suscetibilidade de plantas daninhas a herbicidas pode ser considerada um bem de interesse público, dado todos os custos envolvidos com a resistência. 

Assim, o manejo de plantas daninhas possui muitas externalidades que precisam ser observadas. 

A mudança é constante

O ambiente, em toda a sua complexidade, sempre varia em escala temporal e espacial. Como resultado, gastamos muita energia para mantê-lo o mais uniforme e simples possível, adequando-o aos nossos sistemas de cultivo. 

À medida que o ambiente responde às práticas de manejo adotadas, elas também deveriam responder ao ambiente, ao invés de serem estáticas, pontuais e repetitivas.

Uma vez que, plantas daninhas são evolucionariamente ágeis devido aos altos níveis de diversidade genética, mudanças físicas, estruturais, comportamentais e metabólicas tornam as práticas rapidamente ineficientes.  

Ou seja,

Não existe almoço grátis!

E o custo de basear o controle de plantas daninhas apenas em herbicidas é a resistência.

Aquela tecnologia que simplifica em um primeiro momento, se usada exclusivamente, perderá eficiência. Aumento dos custos e do tempo despendido com operações de controle são apenas algumas das consequências a serem pagas.

Dessa forma, o lucro em curto prazo deve sempre ser confrontado com o custo em longo prazo. E as estratégias proativas de manejo devem ser vistas como investimento.

Em outras palavras, a perda de eficiência em tecnologias como a Roundup Ready® e ClearField® deve ensinar sobre a importância de proteger os recursos disponíveis.  Uma vez que, 

A eficiência dos herbicidas é finita

A prova? Mais de 500 casos de resistência no mundo. E estamos falando apenas dos relatados ao International Survey of Herbicide Resistant Weeds.

A longevidade desse recurso depende da complexidade de práticas de manejo adotadas. Quanto mais simplistas e repetitivas, menor será a vida útil do herbicida em sua lavoura.

Desse modo, fazer o melhor uso dos produtos existentes no mercado, fornecendo as condições necessárias para a expressão da máxima eficiência é essencial.  Consequentemente, é fundamental conhecer as características técnicas que influenciam a eficiência. Nós temos uma série de conteúdos sobre esse assunto, para saber mais, clique aqui.

Além disso, é necessário migrar de um manejo exclusivamente baseado em herbicidas, para uma abordagem na qual diversas práticas complementam o controle químico.

Conheça as plantas daninhas

Atuar nos momentos críticos do ciclo de vida, que influenciam a composição e o tamanho da população de plantas daninhas é fundamental.

Banco de sementes do solo, sementes germinadas, plântulas recrutadas, florescimento e produção de sementes a partir de escapes são pontos de atuação que, obrigatoriamente, devem estar no planejamento.

Assim, na medida que conter a interferência deixa de ser o objetivo exclusivo do manejo, não é mais apenas o ciclo da cultura que dita o momento de execução das práticas. Elas extrapolam o período anterior ao dano e o período crítico e se estendem em longo prazo. Fala-se em manejo das plantas daninhas presentes na área, não mais em uma cultura em específico.

Por isso, construa um muro contra as plantas daninhas, colocando um tijolinho a cada dia!

Literatura consultada

Bagavathiannan, M. V., Davis, A. S. An ecological perspective on managing weeds during the great selection for herbicide resistance. Pest Management Science, v. 74, n. 10, p. 2277-2286, 2018.

Heap, I.  The International Survey of Herbicide Resistant Weeds.  Disponível em www.weedscience.org. Acesso em 28 de maio de 2019.

Wallace, J. M., Curran, W. S., Mortensen, D. A. Cover crop effects on horseweed (Erigeron canadensis) density and size inequality at the time of herbicide exposure. Weed Science, v. 67, p. 327–338, 2019.

 

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