Residual de picloram

Residual de picloram: o que influencia na persistência do herbicida?

Produtos comerciais a base do herbicida picloram ou da mistura formulada com 2,4-D, triclopyr ou fluroxypir são registrados para o controle de plantas daninhas eudicotiledôneas (folhas largas) em pastagens, cana-de-açúcar e arroz. O uso desse herbicida tem aumentado, em razão da sua eficiência no controle de espécies como buva, em pastagens de outono-inverno. No entanto, o residual de picloram pode causar injúrias em culturas como a soja.

Assim, um questionamento frequente é sobre a segurança dessa prática para as culturas subsequentes. E, além disso, o que influencia a persistência do herbicida.

Nesse artigo você vai ler sobre:

  • Mecanismo de ação e usos do picloram
  • Características físico-químicas
  • Comportamento nas plantas e no solo
  • Fatores que afetam o residual de picloram
  • Relatos de resistência

Picloram foi descoberto por acaso

Cientistas buscavam por compostos que pudessem reduzir a conversão da amônia para nitrato no solo. O objetivo era reduzir as perdas da ureia em condições de campo. No entanto, perceberam que as plantas que deveriam estar vigorosas, estavam morrendo! Ao examinar, descobriram que na presença da amônia, microrganismos do solo transformaram o composto inicial, resultando no herbicida picloram.

Como o picloram controla as plantas?

O herbicida é um mimetizador de auxinas (Grupo O), pertencente ao grupo químico dos ácidos piridinocarboxílicos. Os sintomas são os típicos desse mecanismo de ação. Crescimento anormal, epinastia (curvamento do caule) e encarquilhamento. Os sintomas evoluem para clorose, necrose e morte, usualmente, em 3 a 5 semanas.

Detalhamos esse mecanismo de ação quando explicamos como o herbicida 2,4-D controla as plantas. Para saber mais, clique aqui.

Usos do picloram

É indicado para o controle de plantas daninhas anuais e perenes, desde herbáceas até arbustos e lenhosas. No entanto, não possui efeito sobre gramíneas. Além disso, não é efetivo em espécies da família Brassicaceae (nabos, por exemplo).

Registrado para arroz, cana-de-açúcar e pastagens, é principalmente posicionado como pós-emergente. Porém, pode ser aplicado também em pré-emergência. Em arbustos e lenhosas, uma solução concentrada pode ser aplicada no toco, após o corte.

Devido ao longo residual, tem aplicação industrial e também em estradas férreas e linhas de força.

Características físico-químicas

picloram molécula - Residual de picloram: o que influencia na persistência do herbicida?
Figura 1 – Molécula do herbicida picloram (ácido). Fonte: Senseman (2007)

O picloram (Figura 1) é um ácido, solúvel em água, com fraca adsorção ao solo. Ainda, possui baixa pressão de vapor. Em razão disso, as perdas por volatilização são desprezíveis.

Devido a moderada afinidade com a gordura, apresenta reduzido risco de bioacumulação.

As características da molécula, a presença do anel, assim como, dos átomos de cloro conferem ao herbicida estabilidade e persistência. As características físico-químicas do picloram são apresentadas na figura 2.

Picloram insta - Residual de picloram: o que influencia na persistência do herbicida?
Figura 2 – Características físico-químicas do herbicida picloram. Fonte: Senseman (2007).

Comportamento nas plantas

É absorvido tanto pelas folhas, quanto pelas raízes. Transloca-se prioritariamente pelo simplasto (floema) e, em menor proporção, pelo apoplasto, concentrando-se nos pontos de crescimento.

Comportamento no solo

Devido as suas características físico-químicas, é fracamente adsorvido à matéria orgânica e argilas. No entanto, por possuir maior afinidade pela matéria orgânica, quanto maior o teor dessa fração, maior será a chance de alguma adsorção ocorrer.

Em termos de transformação, o herbicida pode sofrer fotodegradação na água e na superfície do solo e das plantas. Essa é uma via importante de dissipação. A degradação microbiana é realizada principalmente por organismos aeróbicos, porém, é lenta.

Fatores que afetam o residual de picloram

Em termos de meia-via, os resultados de laboratório variam de 23 a 172 dias, dependendo da concentração de herbicida no solo. No caso desse estudo, 2,4 e 250 mg/kg, respectivamente.

Cabe recordar o que é meia-vida. Ela se refere ao tempo necessário para a dissipação de metade da concentração inicial. Supondo que 240 g de equivalente ácido (e.a.) de picloram foram aplicados por hectare, após 90 dias, 120 g e.a. serão recuperados no solo.


Sabe a diferença entre equivalente ácido e ingrediente ativo. Explicamos tudo em “Formulações de herbicidas: o que você precisa saber“.


Porém, é a persistência ou residual de picloram a informação mais importante. Isso, devido ao fato de corresponder ao tempo no qual o herbicida permanece ativo no solo, logo, capaz de ser absorvido pelas plantas.

Ensaios de campo têm apontado uma persistência média de 90 dias. No entanto, variação de 20 a 300 dias é registrada (Figura 1), dependendo das condições ambientais.

WhatsApp Image 2022 01 06 at 22.24.13 1 - Residual de picloram: o que influencia na persistência do herbicida?
Figura 1 – Residual de picloram, em área experimental, 246 dias após a aplicação. Fonte: Wellington Florianovitch.

Algumas considerações:

  1. Mesmo após 90 dias, a concentração encontrada no solo é suficiente para causar injúria em culturas sensíveis? Por isso a dose inicial é uma questão importante. Além disso, a sensibilidade da cultura em sucessão deve ser considerada. Por exemplo, soja e feijão são muito sensíveis ao herbicida.
  2. Para que a absorção – e possível injúria – aconteça, é necessário que o herbicida esteja disponível na solução do solo.

Assim, o efeito residual de picloram é resultado da dinâmica desse herbicida no solo. Dessa forma, diversos fatores, intrínsecos ao herbicida, solo e condições ambientais, podem influenciar sua biodisponibilidade.

Textura e conteúdo de matéria orgânica do solo

Picloram movimenta-se facilmente em profundidade em razão da reduzida adsorção. Dessa forma, o potencial para lixiviação é maior em solos arenosos e com baixo teor de matéria orgânica. Formulações salinas tendem a maior transporte por esse meio. O que também acaba por explicar a diferença na persistência entre alguns produtos comerciais.

Entretanto, alguma fração pode ser retida pela matéria orgânica e coloides do solo com cargas positivas, como argilominerais do grupo das caulinitas, óxidos de ferro e alumínio. Consequentemente, o risco do herbicida estar disponível na zona de absorção radicular é maior em solos pesados e com alto teor de matéria orgânica.

pH do solo e o residual de picloram

O pH do solo pode influenciar no comportamento de herbicidas que dissociam. Para herbicidas acídicos, quando o pH do solo está abaixo do pKa, a forma molecular predomina e a adsorção aumenta. Como o pKa do picloram é de 2,3, é provável que o pH do solo esteja sempre acima. Assim, quanto maior o pH, maiores as chances do herbicida sofrer lixiviação.

Por outro lado, do ponto de vista da absorção pelas plantas, o pH do solo entre 4,3 e 7,5 não afeta a fitotoxidade do picloram.

Umidade do solo

A concentração de água influencia a biodisponibilidade de herbicidas fracamente ligados ao solo, como o picloram. Como resultado, quanto maior o teor de água, menor será a concentração de picloram na solução do solo. Consequentemente, menor será sua atividade.

Além disso, chuvas frequentes e volumosas favorecem o transporte do herbicida por lixiviação. Em anos secos, a chance de injúria é maior.

Presença de plantas

Diversos trabalhos tem mostrado que o residual de picloram diminui quando gramíneas são cultivadas na área. No entanto, existe a necessidade de produção de biomassa após a aplicação do herbicida.

Esses são os principais fatores apontados por intervir no residual de picloram em solos cultivados.

Relatos de resistência

No Brasil, não há registros de resistência ao herbicida. Em nível mundial, cinco casos foram relatados ao International Survey of Herbicide Resistant Weeds, dentre eles, uma espécie de caruru (Amaranthus tuberculatus).

Conheça e aplique melhor é uma série de conteúdos do WeedOut que apresenta as principais características técnicas que influenciam na performance dos herbicidas. Para ver todas as publicações dessa categoria, clique aqui.


Literatura consultada

BURN, A. et al. (Ed.). The Herbicide Handbook: Guidance on the use of herbicides on nature conservation sites. English Nature, 2003, 145 p.

HATCHER, P. E., FROUD-WILLIAMS, R. J. (Eds.). Weed research: expanding horizons. Hoboken, NJ : John Wiley & Sons Ltd., 2017. 466 p.

MONACO, T. J., WELLER, S. C., ASHTON, F. M. Weed Science: principles & practices. 3rd ed. John Wiley & Sons, 2002. 685 p.

ROBERTS, T. R. (Ed). Metabolic Pathways of Agrochemicals. Part 1: Herbicides and Plant Growth Regulators. The Royal Society of Chemistry, 1998. 872 p.

SENSEMAN, S. A. (Ed.). Herbicide handbook. 9.ed. Lawrence: Weed Science Society of America, 2007. 458 p.

ZIMDAHL, R. Fundamentals of Weed Science. 3rd ed. Elsevier Inc, 2007. 689 p.

Siga o WeedOut nas redes sociais. Estamos no Facebook, Instagram e Linkedin.

AVISO DE DIREITOS AUTORAIS: 

Todo o material desse site, sendo proibida toda e qualquer forma de plágio, cópia, reprodução ou qualquer outra forma de uso, sem autorização prévia. E-mail: contato@weedout.com.br

 

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Quer estar por dentro das novidades no manejo de plantas daninhas? Deixe seu email!

Também detestamos spam. Não se preocupe, você não receberá email todo dia! :)

Artigos relacionados:

error:

Facilite a eficácia de controle.

Conheça e aplique melhor: um guia completo de todos os herbicidas registrados para uso no Brasil.

Domine o controle químico das plantas daninhas.

Mantenha-se atualizado!

Receba, direto no seu email, um resumo mensal do nosso conteúdo.

Fique tranquilo, também não gostamos de spam.