A erva-de-santa-luzia é mais uma prova de que o conceito de planta daninha é relativo! Fitoterápica, utilizada nos tratamentos de distúrbios respiratórios e como antiespasmódica, tem emergido como planta daninha em cultivos de verão. Conheça a espécie e saiba como manejá-la eficientemente. Ou, se preferir, também faça um chá!
Aliás, para conhecer as propriedades medicinais da erva de santa luzia, clique aqui.
A espécie Euphorbia hirta (EPHHI), já classificada como Chamaesyce hirta, também é conhecida popularmente como erva-andorinha, eufórbia, folha-de-leite ou leiteira. Os dois últimos nomes, fazem referência à liberação de látex, característica da família Euphorbiaceae, a qual o gênero pertence.
Como reconhecer a erva de santa luzia
Planta herbácea de ciclo anual, a erva-de-santa-luzia tem hábito de prostrado a ascendente, podendo alcançar entorno 50 cm de altura.
O caule é semi-ereto, variando de verde a avermelhado ou arroxeado, com pilosidade clara, branca ou até amarela. Além disso, uma característica marcante é a liberação látex pelo caule, quando lesionado.
As folhas são simples, podendo alcançar 1,5 cm de largura por 4,0 cm de comprimento, oblongo-lanceoladas, pontiagudas e com margem finamente dentada. A inserção das folhas no caule é oposta e os pecíolos muito curtos. As folhas são verdes, no entanto, ocorre pigmentação avermelhada nas extremidades, na superfície superior. Há pilosidade na face inferior da folha. Convém ressaltar que o ambiente influencia na expressão dessas características, como resultado, pode ocorrer variações no tamanho e cor.
A inflorescência, inserida nas axilas das folhas, é do tipo ciátio. Ou seja, formada por uma flor feminina pedicelada, rodeada por várias flores masculinas, sendo o conjunto, envolto pelas brácteas. Os vários ciátios são agrupados em fascículos de 0,5 a 1 cm de diâmetro. As pequenas flores variam de esverdeadas a rosadas, com pedúnculo curto marrom-avermelhado e sem pétalas. Assim, as estruturas femininas (gineceu) e masculinas (estames) são evidentes (Figura 1).
O fruto é do tipo cápsula, com três lóbulos, com dimensões da ordem de 1,5 mm. Há relatos da produção de aproximadamente 3 mil sementes por planta, as quais são muito pequenas (0,5 a 0,7 mm de comprimento). A coloração também é marrom-avermelhada.
A espécie é muito parecida com Euphorbia hyssopifolia, a qual também é conhecida por erva-andorinha. No entanto, as folhas desta última são bem menos pontiagudas e o pedúnculo das inflorescência é mais longo que em E. hirta.
Onde encontrar a erva-de-santa-luzia
Uma das Euporbiaceae mais comuns, a erva-de-santa-luzia é nativa da América tropical, distribuindo-se em baixas altitudes, pelos trópicos e subtrópicos. É encontrada em todo o país, preferindo condições de sol e boa drenagem do solo. É uma colonizadora, após episódios de perturbação, o que a torna planta daninha comum em cultivos anuais e perenes, pastagens, beiras de estradas, jardins, gramados, terrenos baldios, etc (Figura 2).
Biologia e ecologia
Duas informações são muito relevantes para o manejo da espécie, na condição de planta daninha: primeiramente, a erva-de-santa-luzia se propaga apenas por sementes. Mas, por outro lado, as culturas estarão competindo com uma planta C4.
As sementes, que requerem luz, germinam bem em temperaturas entre 15 e 40ºC. A temperatura mínima relatada para germinação é de 10ºC. A germinação é influenciada pela umidade do solo, consequentemente, sendo reduzida em solos secos. Além disso, tem sido relatado que a pigmentação arroxeada é mais intensa em condições de estresse hídrico.
Erva-de-santa-luzia, versão planta daninha
Frequentemente associada aos cultivos de cana-de-açúcar e café. E. hirta é planta daninha de importância secundária em cultivos anuais de verão. No entanto, sua frequência e abundância vem aumentado, principalmente em cenários de soja e milho sob semeadura direta, onde há disponibilidade de luz para a germinação. Além disso, devido ao tamanho diminuto das sementes, as mesmas não possuem reservas expressivas para que as plântulas superem grandes profundidades de solo.
Ainda, a espécie tem sido relatada como hospedeira dos nematoides Meloidogyne incognita, M. graminicola e M. javanica, dentre outros. Além disso, também hospeda mosca-branca (Bemisia tabaci), que é vetor de diversos vírus de culturas como tomate, mandioca, tabaco e feijão.
Manejo
Como resultado do fotoblastismo positivo, a cobertura do solo com uma robusta palhada reduz a porcentagem de germinação das sementes, uma vez que interfere na disponibilidade de luz. Também, efeitos alelopáticos são relatados. Ainda, na olericultura, a solarização do solo sob lona de polietileno, por 30 a 45 dias provém até 100% de controle.
O revolvimento do solo e enterrio das sementes também é relatado por afetar o estabelecimento da espécie.
Herbicidas registrados para o controle de erva-de-santa-luzia
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Herbicida | Grupo químico | Mecanismo de ação |
---|---|---|
Ametrina + trifloxissulfurom-sódico | Triazina + Sulfoniluréia | Inibidor do FSII + Inibidor de ALS |
Carfentrazona-etílica + glifosato | Triazolona + glicina substituída | Inibido de PROTOX + Inibidor de EPSPS |
Diclosulam | Sulfonanilida triazolopirimidina | Inibidor de ALS |
Diurom | Uréia | Inibidor de FSII |
Glifosato | Glicina substituída | Inibidor de EPSPS |
Glifosato + 2,4-D | Glicina substituída + Ácido ariloxialcanóico | Inibidor de EPSPS + Auxina sintética |
Imazapique + imazapir | Imidazolinona + Imidazolinona | Inibidor de ALS + Inibidor de ALS |
Imazapir | Imidazolinona | Inibidor de ALS |
Imazetapir + saflufenacil | Imidazolinona + pirimidinadiona | Inibidor de ALS + Inibidor de PROTOX |
Metsulfurom-metílico | Sulfoniluréia | Inibidor de ALS |
Prometrina | Triazina | Inibidor de FSII |
Saflufenacil | Pirimidinadiona | Inibidor de PROTOX |
Trifloxissulfurom-sódico | Sulfoniluréia | Inibidor de ALS |
Trifluralina | Dinitroanilina | Inibidor da formação de microtúbulos |
Para a estratégia de manejo mais adequada para a realidade da sua lavoura, consulte sempre um(a) engenheiro(a) agrônomo(a)!
Bibliografia consultada
Burch D. Two new species of Chamaesyce (Euphorbiaceae), new combinations and key to the Caribbean members of the genus. Annals of the Missouri Botanical Garden, v. 53, p. 375-376, 1966.
Ferreira, D. T. R. G. Control of three Euphorbia species through herbicides applied during pre-emergence on sugarcane straw. Revista Brasileira de Herbicidas, v.15, p.323-331, 2016.
Saha, D., et al. Emergence of garden spurge (Euphorbia hirta) and large crabgrass (Digitaria sanguinalis) in response to different physical properties and depths of common mulch materials. Weed Technology v. 34, p. 172–179, 2020.