Em 2015, a Sociedade Brasileira de Nematologia anunciou que o agronegócio nacional contabiliza prejuízos de 35 bilhões de reais, provocados pelos nematoides. Apenas na cultura da soja, as perdas são estimadas em 16,2 bilhões. Mas qual a relação entre nematoides e plantas daninhas?
Nematoides são vermes cilíndricos microscópicos que habitam o solo e podem ser parasitas de plantas (Figura 1). A problemática relacionada aos fitonematoides tem crescido muito nos últimos anos, nas principais culturas de importância econômica. Isso acontece devido à ampla distribuição das espécies e grande número de plantas hospedeiras, monocultivo com culturas suscetíveis, entre outras práticas que intensificam o problema.
Ameaça à fitossanidade da sua lavoura
Também em 2015, o Ministério da Agricultura divulgou uma lista com as oito pragas e doenças com maior risco fitossanitário. Ferrugem da soja, mofo branco, Helicoverpa armigera, mosca branca, bicudo do algodoeiro, algumas plantas daninhas resistentes e nematoides estavam estre elas. Principalmente as espécies de nematoides de galhas, Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita; o nematoide de cisto da soja, Heterodera glycines (Figura 2) e o nematoide das lesões radiculares, Pratylenchus brachyurus.
Quando pensamos em nematoides, imaginamos que os danos maiores ocorram nas culturas principais, mas o problema pode ser agravado quando não se faz o manejo efetivo das plantas daninhas. Sabe-se que as plantas daninhas são ótimas hospedeiras do parasita, então se o controle não for efetivo, a densidade populacional do nematoide irá aumentar consideravelmente nas áreas mal manejadas.
É isso mesmo! Ao manter plantas daninhas na área, você pode estar favorecendo os fitonematoides.
Pensando na sustentabilidade do sistema produtivo, o manejo de plantas daninhas é essencial. No entanto, em áreas com a presença de nematoides esse cuidado deve ser redobrado. Embora ainda escassos, os estudos disponíveis mostram reação variável dos nematoides frente às principais espécies de plantas daninhas, mas o suficiente para colocá-las na condição de “ponte verde” até o próximo cultivo.
Plantas daninhas hospedam nematoides
Para a espécie de nematoide das galhas, Meloidogyne incognita, plantas daninhas como caruru (Amaranthus viridis), trapoeraba (Commelina benghalensis), capim-colchão (Digitaria hotizontalis), corda-de-viola (Ipomoea purpurea), maria pretinha (Solanum americanum) e capim-massambará (Sorghum halepense) são consideradas suscetíveis. Ou seja, essa espécie de nematoide consegue se reproduzir normalmente e aumentar sua densidade populacional nas raízes dessas plantas daninhas.
Já para Meloidogyne javanica, poucas espécies foram testadas. Porém, picão-preto (Bidens pilosa), capim-colchão e guanxuma (Sida rhombifolia) são citadas como suscetíveis. Um exemplar do gênero é apresentado na figura 3.
Para a espécie Pratylenchus brachyurus, o nematoide das lesões radiculares (Figura 4), mais de 90% das espécies de plantas daninhas testadas são suscetíveis. Isso confirma uma das suas principais características, a polifagia, que é a capacidade de parasitar um grande número de hospedeiros. Dentre as plantas daninhas suscetíveis estão apaga-fogo (Alternanthera tenella), picão-preto, capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), capim-arroz (Echinochloa colonum), leiteiro (Euphorbia heterophylla) e guanxuma.
Dessa forma, a manutenção de áreas em pousio, com estabelecimento de vegetação espontânea é uma prática que pode vir a favorecer o aumento da população de nematoides. Além disso, é importante ressaltar que a presença de culturas suscetíveis, quando na condição de plantas daninhas, como o milho tiguera presente na cultura da soja, também deve ser evitada.
Assim, o adequado manejo de plantas daninhas, além de reduzir a interferência na cultura e prevenir a resistência a herbicidas, deve considerar o impacto na população de nematoides.
Para saber mais sobre essa abordagem de manejo, leia “Plantas daninhas: vá além de prevenir a interferência“.
Informação importante!
A partir do momento que se detecta a presença de nematoides na lavoura, começa um convívio com esse patógeno que dificilmente será erradicado da área. A convivência com os nematoides consiste em criar um ambiente desfavorável para seu ciclo de vida, assim, o controle de plantas daninhas na área é uma estratégia importante para evitar o aumento da densidade populacional dos nematoides, garantindo que isso não interfira diretamente na produtividade da cultura principal.
Literatura consultada
Ferraz, L. C. C. B.; Brown, D. J. F. Nematologia de plantas: fundamentos e importância. Manaus: Norma, 2016. 251p.
SBN, Sociedade Brasileira de Nematologia. Por ano, nematoides causam prejuízos de R$ 35 bilhões ao agronegócio brasileiro. http://www.esalq.usp.br/cprural/noticias/mostra/2904/por-ano-nematoides-causam-prejuizos-de-r-35-bilhoes-ao-agronegocio-nacional.html
MAPA, Ministério da Agricultura. Portaria nº 5 de 21/08/2015, disponível em <http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?data=24/08/2015&jornal=1&pagina=13&totalArquivos=76>.
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Monaco, A. P. A.; Carneiro, R. G.; Kranz, W. M.; Gomes, J. C.; Scherer, A.; Santiago, D. C. Reação de espécies de plantas daninhas a Meloidogyne incognita raça 1 e 3, a M. javanica e a M. paranaensis. Piracicaba/SP, Nematologia Brasileira, v.33, n. 3, 2009.
Pesquisadora convidada
Priscila é Engenheira agrônoma (2016), Mestre em Agricultura Conservacionista pelo Instituto Agronômico do Paraná (2019), na área de Produção e Proteção Vegetal com ênfase em Nematologia. Trabalhou com pesquisa em Nematologia durante o período da graduação e pós-graduação em Londrina/PR. Atualmente, é gestora do @nemanocampo.