IMG 3064 C - O caruru (Amaranthus sp.) será a nova buva?

O caruru (Amaranthus sp.) será a nova buva?

Sete dos cinquenta casos de resistência reportados no Brasil são referentes à espécies de caruru. Seria esse um alerta para olharmos com mais atenção para o gênero Amaranthus?

Algumas características contribuem para a probabilidade de seleção e são frequentemente verificadas em biótipos resistentes à herbicidas. Dentre elas, a diversidade genética e plasticidade fenotípica, a elevada produção de sementes e facilidade de dispersão das mesmas. Além disso, o rápido crescimento vegetativo, aliado a elevada competitividade contribuem para a dominância, dentro da comunidade.

Todas essas características são evidentes nos carurus. Ainda, soma-se o fato dessas plantas possuírem metabolismo fotossintético C4. O que as torna mais eficientes do que a maioria das culturas no aproveitamento de recursos do meio, principalmente em climas quentes.

Além disso, os carurus são reconhecidos pelo efeito alelopático, que reduz o vigor de outras plantas. Também são relatados como hospedeiros de nematoides, pragas e patógenos.

Como reconhecer a planta Amaranthus?

Diversas espécies do gênero Amaranthus são popularmente conhecidas por caruru. E embora muito semelhantes, apresentam respostas diferentes ao controle químico. Por isso, a correta identificação é muito importante. Confira a descrição das principais, na tabela a seguir.

Identificacao-de-caruru

No entanto, é comum ter dificuldade para a identificação, uma vez que essas plantas apresentam elevada plasticidade fenotípica e pode ocorrer hibridação entre espécies. Assim, como na maioria das plantas daninhas, a confirmação pode vir apenas no reprodutivo.

Por exemplo, a deiscência dos frutos é um critério de separação. Em A. deflexus (Figura 1), A. lividus e A. spinosus o fruto não abre, expondo as sementes (indeiscente), diferenciando-os das demais espécies. O ápice da folha emarginado é frequente em A. lividus (Figura 2).

IMG 2893 C - O caruru (Amaranthus sp.) será a nova buva?
Figura 1 – Os frutos de algumas espécies de caruru são indeiscentes, caso de A. deflexus.
IMG 6429 C - O caruru (Amaranthus sp.) será a nova buva?
Figura 1 – Ápice emarginado, comum em A. lividus.

Onde é encontrada

Os carurus estão presentes em áreas agrícolas por todo o país. É uma planta daninha comum em áreas cultivadas com olerícolas, cultivos anuais, perenes e até mesmo em áreas sob pecuária. A resistência tem aumentado sua importância em cultivos como algodão, soja e milho, em diversas regiões do Brasil.

O caruru é uma ameaça?

A bioecologia ajuda a responder!

O aumento da frequência das infestações de caruru é fato. Antes secundárias, essas plantas tem sido favorecidas por práticas de manejo inadequadas.

Isso quer dizer que estamos criando um ambiente que favorece a expressão das características bioecológicas dos carurus.

As sementes de caruru permanecem viáveis no solo por cinco a dez anos, dependendo da espécie. Alternância de temperatura (20 – 30ºC) e luz favorecem a germinação. No entanto, a germinação também ocorre no escuro, porém em menores percentuais.

A velocidade de germinação de A. viridis e A. hybridus é superior em relação às demais espécies. Por outro lado, A. deflexus e A. spinosus germinam mais lentamente, como resultado da sua dispersão, que ocorre através dos frutos indeiscentes.

Espécies de sementes pequenas, sensíveis à luz e temperatura, costumam ser desfavorecidas em sistemas conservacionistas. No entanto, a germinação das sementes de caruru tem sido verificada mesmo sob palhadas com mais de 5 t/ha. 

Além disso, essas espécies apresentam curto período entre emergência e florescimento, em torno de 40 dias. As espécies A. viridis e A. spinosus são as que crescem mais rápido. Como resultado, ocorrem diversas gerações por ano.

Uma planta de porte grande pode produzir até 200 mil sementes, resultando em grande densidade populacional e alta taxa de reprodução. Sabe aquela pequena reboleira (Figura 3) que apareceu na sua lavoura? Espere até a próxima estação de crescimento…

IMG 9561 C - O caruru (Amaranthus sp.) será a nova buva?
Figura 3 – Reboleira de plântulas de caruru (A. lividus).

Ainda, a possibilidade de cruzamentos e hibridação, aumenta a variabilidade genética e, consequentemente, a probabilidade de seleção para a resistência. Completando o combo, a alta taxa de crescimento, típica de plantas com metabolismo C4,  favorece a competição com os cultivos.

Isso tudo, somado a capacidade de resistir aos herbicidas = PROBLEMA!

Manejo

Longa viabilidade das sementes, crescimento rápido e habilidade competitiva são apenas um dos fatores que justificam ações assertivas quanto ao manejo de caruru. E o desafio é ainda maior quando falamos do controle em culturas “folhas largas” como feijão, soja e algodão. Além é claro, das olerícolas, nas quais as opções de herbicidas são reduzidas.

Adicionalmente, o caruru apresenta fluxos de germinação. Como resultado, o momento de emergência dentro do ciclo da cultura influencia o potencial de interferência e as práticas de manejo.

Maior interferência tem sido verificada quando cultura e plantas daninhas emergem juntas. Assim, quanto mais cedo forem adotadas as medidas de controle, maior será a eficácia e consequentemente, menor a interferência.

Quando a emergência do caruru ocorre no final do ciclo da cultura, a interferência beira a zero. No entanto, a produção de sementes reabastece o banco e as plantas podem dificultar a colheita, além de adicionar impurezas.

Além disso, uma amplitude de efeitos inibitórios é relatada a partir das substâncias alelopáticas produzidas pelos carurus.

Estratégia!

Por isso, o primeiro passo do manejo é prevenir a entrada da espécie na área!

O enterrio das sementes, promovido pelo revolvimento do solo sob cultivo convencional é eficiente, devido ao tamanho reduzido das sementes.

Embora consista na principal ferramenta, o controle químico deve sempre ser combinado com outras estratégias. A escolha do herbicida mais apropriado depende da espécie de caruru, época de aplicação, residual e cultura seguinte, características do solo (pH, textura e matéria orgânica), sistema de cultivo, disponibilidade e custo.

Cabe destacar que o controle em pós-emergência é favorecido pela correta identificação das espécies em questão. A. retroflexus (Figura 4) e A. viridis são as mais difíceis de controlar. Além disso, o histórico das espécies presentes na área é fundamental para a escolha dos pré-emergentes mais apropriados.

IMG 3684 C - O caruru (Amaranthus sp.) será a nova buva?
Figura 4 – Planta de A. retroflexus.

Ainda, os vários fluxos de emergência justificam a escolha de herbicidas com residual mais longo.

Em áreas com suspeita/ocorrência de resistência, o manejo deve ser planejado em longo prazo, a fim de reduzir pressão de seleção e o banco de sementes da população resistente.

Assim, a integração de métodos de controle é fundamental. Além disso, deve-se evitar repetir herbicidas. Para isso, a rotação de culturas deve ser adotada, por viabilizar o uso de diferentes mecanismos de ação.

A flora daninha deve ser acompanhada e as lavouras vistoriadas após a aplicação. Os escapes devem ser eliminados, para inviabilizar a produção de sementes.

É muito importante conter a dispersão. Por isso, cuidados redobrados com a limpeza do maquinário devem ser adotados. Assim, deixe sempre as áreas infestadas por último! 

Controle-caruru

Passe as páginas, para ter acesso a todo o conteúdo.

Espécies de caruru resistentes a herbicidas

Os primeiros relatos de resistência no Brasil vieram de A. retroflexus e A. viridis, em lavouras de algodão, no ano de 2011.  Os biótipos apresentaram resistência múltipla a inibidores da ALS (trifloxissulfuron) e Fotossistema II (atrazina e prometrina). Em 2012, um novo biótipo de A. retroflexus, com resistência a inibidores da ALS foi relatado em algodão.

Em 2014, A. retroflexus capaz de sobreviver a inibidores da PROTOX (fomesafem) foi relatado em algodão e soja.

No ano seguinte, veio a notícia de que A. palmeri, resistente ao glifosato (inibidor da EPSPS) + inibidores de ALS e uma das espécies mais temidas de caruru, chegou ao Brasil. Em 2016, um novo relato, porém apenas de resistência ao glifosato. Todos em cenário de algodão, milho e soja.

Em 2018, A. hybridus foi relatado por sobreviver a inibidores da ALS e EPSPS. Desde então, diversas populações vem sendo monitoradas e é provável que novos relatos ocorram em breve.

Tem dificuldade para controlar caruru? Se esse artigo foi útil, compartilhe e ajude a divulgar a informação!

Literatura consultada

Bensch, C. N., Horak, M. J., Peterson, D. Interference of Redroot Pigweed (Amaranthus Retroflexus), Palmer Amaranth (A. Palmeri), and Common Waterhemp (A. Rudis) in Soybean. Weed Science, v. 51, n. 51, p. 37–43, 2003.

Carvalho, S. J. P. de. Características biológicas e suscetibilidade a herbicidas de cinco espécies de plantas daninhas do gênero Amaranthus. 2006. 97 f.

Heap, I.  The International Herbicide-Resistant Weed Database. Disponível em www.weedscience.org. Acesso em: 09 de novembro de 2020.

Inoue, M. H. et al. Manejo de Amaranthus. São Carlos: RiMa Editora, 2015. 212 p.

Moreira, H. J. C.; Bragança, H. B. N. Manual de identificação de plantas infestantes, Cultivos de versão. Campinas-SP, 2010. 642 p.

AVISO DE DIREITOS AUTORAIS: 

Todo o material desse site, sendo proibida toda e qualquer forma de plágio, cópia, reprodução ou qualquer outra forma de uso, sem autorização prévia. E-mail: contato@weedout.com.br

 

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Quer estar por dentro das novidades no manejo de plantas daninhas? Deixe seu email!

Também detestamos spam. Não se preocupe, você não receberá email todo dia! :)

Artigos relacionados:

error:

Facilite a eficácia de controle.

Conheça e aplique melhor: um guia completo de todos os herbicidas registrados para uso no Brasil.

Domine o controle químico das plantas daninhas.

Mantenha-se atualizado!

Receba, direto no seu email, um resumo mensal do nosso conteúdo.

Fique tranquilo, também não gostamos de spam.