Florpirauxifen-benzil promete o controle de gramíneas, ciperáceas e folhas largas nos diversos sistemas de cultivo de arroz irrigado. Apresentado pela companhia detentora como o ativo Rinskor™, é apontado como um recurso para a resistência aos mecanismos de ação mais utilizados na cultura. Capim-arroz e sagitária, dentre outras plantas daninhas de difícil controle, são alvos do herbicida!
Além disso, o herbicida em mistura formulada com diclosulam, pode vir a ser uma opção para buva e capim-amargoso na cultura da soja.
Recentemente publicado no Diário Oficial, o registro foi concedido no Ato Nº 42/2019 do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas da Secretaria de Defesa Agropecuária.
A expectativa é de que o produto formulado seja comercializado já na safra 2019/20, sob a marca comercial Loyant® pela Corteva.
Como o florpirauxifen-benzil controla as plantas?
Pertencente ao grupo químico dos arilpicolinatos, o herbicida é um mimetizador de auxinas (Grupo O, segundo o HRAC-BR). Porém, os sítios de ligação (receptores de auxinas) diferem, quando comparados a herbicidas clássicos desse mecanismo de ação, como o 2,4-D.
Nós já detalhamos a ação herbicida do 2,4-D. Para saber mais, clique aqui.
Após ser absorvido, o florpirauxifen-benzil mimetiza a ação da auxina natural no núcleo das células. E, como uma superdose de auxina, ele interrompe o processo normal de regulação do crescimento. Assim, as plantas tratadas apresentam crescimento anormal, evoluindo para encarquilhamento e epinastia, como em outras auxinas sintéticas. Além disso, múltiplos processos celulares são interrompidos, seguidos de necrose dos tecidos. Como resultado, as plantas suscetíveis morrem, em questão de dias a semanas.
Usos do florpirauxifen-benzil
Rinskor™ é apresentado como pós-emergente o arroz e outras culturas para as quais possa vir a ser registrado. Segundo o boletim técnico (em inglês), gramíneas como capim-arroz e papuã, juncos (Cyperus sp.) comuns na cultura do arroz e espécies como anjiquinho, carurus, ambrósia, buva, aguapé, cruz-de-malta e sagitária, dentre outras, são suscetíveis ao herbicida. Além disso, o florpirauxifen-benzil pode ser misturado a herbicidas pré e pós-emergentes, a fim de, complementar o espectro de controle.
Ainda, é evidente seu valor no manejo da resistência de plantas daninhas a herbicidas. Cabe ressaltar que a resistência de aquáticas é um grande desafio para essa cultura, dado o uso predominante de inibidores da ALS, ACCase e EPSPS e o agroecossistema, que as favorece.
Características físico-químicas
O florpirauxifen-benzil (Figura 1) é ativo em doses relativamente baixas. A literatura faz referência entre 30 e 50 g ha‾¹ de ingrediente ativo (i.a.), dependendo do alvo e modalidade de aplicação. As características físico-químicas (Figura 2) indicam insolubilidade em água, alta afinidade por solventes orgânicos e coloides do solo. Assim, é um produto hidrofóbico e lipofílico, em outras palavras, tem afinidade pela gordura. A baixa pressão de vapor, aliada a curta meia-vida no ar (1,1 dias) indicam baixo risco para organismos não alvo, em termos de volatilização. Além disso, a tecnologia da formulação comercial promete reduzido movimento para fora do alvo.
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Comportamento nas plantas
O herbicida é aplicado na parte aérea das plantas daninhas, sendo absorvido pelas folhas e metabolizado para a forma ativa. Sistêmico, se movimenta pelo floema (simplasto) e se acumula nas regiões de crescimento, onde ocorre a ação herbicida.
O arroz é capaz de metabolizá-lo, conferindo a seletividade. No entanto, pode causar injúrias em plantas não alvo, incapazes de converter o herbicida para formas não tóxicas.
Como outras auxinas sintéticas, não deve ser aplicado após a iniciação da panícula.
Comportamento no solo
As características físico-químicas indicam que a biodisponibilidade no solo é baixa. Estudos de avaliação tem revelado que nem o florpirauxifen-benzil, tão pouco seus metabólitos são significantemente absorvidos a partir do solo. Dessa forma, plantas daninhas podem emergir e se estabelecer após o tratamento, uma vez que não há residual. Por outro lado, os riscos para culturas em sucessão são reduzidos.
A forte adsorção aos coloides do solo tornam o herbicida imóvel. Como resultado, o movimento em profundidade (lixiviação em 0-15 cm) é muito reduzido. Os protocolos de avaliação também revelaram rápida degradação e a dissipação varia entre seus metabólitos. As condições de umidade e temperatura alta favorecem a degradação microbiana.
Fatores que afetam a performance do florpirauxifen-benzil
Melhores resultados são obtidos com a aplicação nos estágios iniciais de crescimento das plantas daninhas (2 a 5 folhas). Além disso, como em outros herbicidas, qualquer condição de estresse favorece injúrias e pode prejudicar o controle.
Prática comum na cultura do arroz irrigado, a inundação da área também favorece o controle do florpirauxifen-benzil.
Trabalhos de pesquisa não detectaram sinais de antagonismo em misturas de tanque com acifluorfen, bentazon, carfentrazone, propanil e saflufenacil. Da mesma forma, com 2,4-D, bispiribac-sódico, cialofope, fenoxaprope, halosulfurom, imazetapir, penoxsulam, quinclorac e triclopir, herbicidas sistêmicos comumente usados no arroz.
Manejo da resistência
É importante ressaltar que quinclorac, embora atue inibindo a celulose, também é uma auxina sintética amplamente utilizada na cultura do arroz irrigado. Casos de capim-arroz resistente são relatados para esse herbicida, nesse contexto.
Estudo avaliando o controle de acessos de capim-arroz resistentes a ALS, propanil e quincloraque, evidenciou controle satisfatório com florpirauxifen-benzil. Dessa forma, demonstra que as especificidades do grupo químico dos arilopicolinatos podem contribuir para o manejo da resistência.
No entanto, nenhuma iniciativa química se sustenta quando usada como ferramenta exclusiva. Devendo, para a preservação da sua vida útil, ser parte de um programa de manejo integrado de plantas daninhas. Para tal, consulte sempre um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).
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Literatura consultada
Australian Pesticides and Veterinary Medicines Authority. Public release summary on the evaluation of the new active florpyrauxifen-benzyl (Rinskor™) in the product GF-3301 herbicide. 58 p., 2018.
Dow Chemical Company. The Rinskor™ active Technical Bulletin. Disponível em: https://www.rinskor.com/content/dam/hdas/rinskor/pdfs/Rinskor_Tech_Bulletin.pdf. Acesso em: 29 de junho de 2019.
Miller, M. R., Norsworthy, J. K. Florpyrauxifen-benzyl Weed Control Spectrum and Tank-Mix Compatibility with Other Commonly Applied Herbicides in Rice. Weed Technology, v. 32, n. 3, p. 319-325, 2018.
Miller, M. R., Norsworthy, J. K., Scott, R. C. Evaluation of Florpyrauxifen-Benzyl on Herbicide-Resistant and Herbicide Susceptible Barnyardgrass Accessions. Weed Technology, v. 32, n. 2, p. 126-134, 2018.