O picão-preto, seja na farmacopeia popular ou na agricultura, está entre as plantas mais recorrentes no Brasil. Saiba como reconhecer e onde encontrar essa planta daninha!
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1. Relevância
Positiva: planta medicinal, o picão-preto é recomendado para auxiliar no tratamento de diabetes, icterícia, vermes e desinteria. Foram identificados compostos tóxicos para bactérias e fungos. Em estudos, extratos alcoólicos e aquosos reduziram a pressão arterial de coelhos e a glicemia de camundongos.
Negativa: planta daninha recorrente em diversos cultivos. Infesta culturas anuais, pomares, pastagens, jardins, etc. Os aquênios (picão) se prendem em animais, reduzindo a qualidade da lã, causando nós nos pelos e ferimentos na pele. Hospeda nematoides como Meloidogyne, Pratylenchus, Rotylenchulus e Helicotylenchus. Além de fungos como Cercospora e Uromices, pulgões, coleópteros, dentre outras pragas de culturas.
2. Taxonomia
Nome científico: Bidens pilosa L.
Sinônimos: Bidens alausensis, Bidens alba, Bidens chilensis, Bidens hirsuta, Bidens hispida, Bidens leucantha, Bidens leucanthema, Bidens mountaubani, Bidens odorata, Bidens reflexa, Bidens scandicina, Bidens sundaica, Centipeda minuta, Centipeda orbicularis, Coreopsis leucanthema, Cotula minuta, Kerneria pilosa, Kerneria tetrágona e Myriogyne minuta.
Família: Asteraceae
Código EPPO: BIDPI
Nomes populares: amor-seco, carrapicho, carrapicho-de-duas-pontas, carrapicho-picão, coambi, erva-picão, fura-capa, goambu, picão, picão-campo, picão-preto, pico-pico e piolho-de-padre.
3. Morfologia e reconhecimento
Plântulas: folhas cotiledonares estreitas e alongadas. Folhas verdadeiras opostas, pecioladas e pinatipartidas.
Sistema radicular: pivotante.
Caule: planta herbácea e ereta. A altura pode variar de 20 a 150 cm. O caule é verde, às vezes com manchas vermelho-amarronzadas, de seção quadrangular, com ramificação dística.
Folhas: pecioladas, com inserção oposta. Se apresentam simples ou compostas. Nesse caso, o folíolo terminal é maior e outros, normalmente de 3 a 5 por folha. Além disso, o ápice das folhas é pontiagudo, a margem é denteada-serreada e a cor, embora sofra influência do ambiente, costuma ser verde intensa.
Inflorescência: capítulos terminais ou axilares isolados ou ainda, dispostos em conjunto. O pedúnculo é longo, podendo chegar a 5 cm de comprimento. Os botões florais são amarelos, e o diâmetro da flor varia consideravelmente (5 a 15 mm). Ocorrem inflorescências com flósculos periféricos de corola ligulada, que pode ser imperceptível ou bastante desenvolvida. Podem variar em número e coloração, indo do branco ao amarelo.
Frutos e sementes: aquênios de cor preta. Os aquênios centrais da infrutescência costumam ser mais longos, finos e retos, enquanto que os periféricos são mais curvados. Em Bidens pilosa, a maioria dos aquênios possuem duas aristas maiores e uma terceira, central, menor. Ainda, são encontrados em menor proporção, aquênios com apenas duas aristas e com três igualmente desenvolvidas.
Distinção de outras espécies: a distinção entre B. pilosa e B. subalternans é mais assertiva após a emissão das inflorescências, uma vez que as características vegetativas são muito influenciadas pelo ambiente. No entanto, alguns atributos são apontados como distintivos. Em B. pilosa, o segundo par de folhas difere do primeiro, mantendo-se igual em B. subalternans. Na primeira espécie de picão preto, os ramos do terço superior, no estádio reprodutivo, são dicotômicos, ao contrário de B. subalternans. Além disso, em Bidens pilosa, ao contrário de Bidens subalternans, não são encontrados aquênios com quatro aristas.
4. Biologia e ecologia
Hábitat: picão-preto é encontrado em praticamente todos os ambientes, desde áreas agrícolas muito férteis até solos mais pobres, terrenos baldios, cultivos perenes, áreas úmidas, porém não inundadas.
Origem e distribuição: nativa da América Tropical, distribui-se por todo o Brasil.
Ciclo: anual, de primavera e verão. No entanto, em regiões quentes, vegeta em todas as estações, chegando a três ciclos por ano. A reprodução ocorre por sementes, sendo exposição à luz e umidade condicionadores da germinação. Porém, a germinação também ocorre no escuro, mas, em menor proporção.
Características gerais: mecanismo fotossintético do tipo C3, forma densas infestações que podem reduzir consideravelmente a produtividade dos cultivos.
5. fotos do picão preto
6. Controle químico do picão-preto
Ingredientes ativos registrados para controle:
2,4-D
Acetocloro
Alacloro
Ametrina
Amicarbazona
Atrazina
Bentazona
Clomazona
Cloransulam-metílico
Clorimurom-etílico
Dazomete
Dibrometo de diquate
Dicamba
Diclosulam
Diurom
Flazasulfurom
Florpirauxifen-benzil
Flumetsulam
Flumioxazina
Fluroxipir-meptílico
Fomesafem
Glifosato
Glufosinato
Hexazinona
Imazamoxi
Imazapique
Imazapir
Imazaquim
Imazetapir
Indaziflam
Iodossulfurom-metílico-sódico
Isoxaflutol
Lactofem
Linurom
MCPA
Mesotriona
Metam-sódico
Metribuzim
Metsulfurom-metílico
MSMA
Nicossulfurom
Octanoato de ioxinila
Oxifluorfem
Pendimetalina
Picloram
Piritiobaque-sódico
Prometrina
Propanil
Saflufenacil
Simazina
Sulfentrazona
Tebutiurom
Tembotriona
Terbutilazina
Tiafenacil
Triclopir-butolítico
Trifloxissulfurom-sódico
Misturas formuladas registradas para controle:
2,4-D + picloram
Acifluorfem-sódico + bentazona
Alacloro + atrazina
Ametrina + clomazona
Ametrina + trifloxissulfurom-sódico
Amicarbazona + diurom
Amicarbazona + diurom + hexazinona
Amicarbazona + tebutiurom
Atrazina + mesotriona
Atrazina + nicossulfurom
Atrazina + simazina
Atrazina + S-metolacloro
Bentazona + imazamoxi
Bromacila + diurom
Carfentrazona-etílica + clomazona
Cletodim + fluroxipir-meptílico
Clomazona + sulfentrazona
Clorimurom-etílico + flumioxazina
Clorimurom-etílico + glufosinato-sal de amônio
Clorimurom-etílico + imazetapir
Diurom + hexazinona
Diurom + hexazinona + tebutiurom
Diurom + sulfentrazona
Diurom + tebutiurom
Fluazifope-P-butílico + fomesafem
Flumioxazina + imazetapir
Fluroxipir-meptílico + triclopir-butolítico
Fomesafem + glifosato
Foramsulfurom + iodossulfurom-metílico-sódico
Glufosinato + S-metolacloro
Halauxifen-metil + diclosulam
Imazapique + imazapir
Imazapique + imazetapir
Imazetapir + saflufenacil
Imazetapir + sulfentrazona
Indaziflam + iodossulfurom-metílico-sódico
Indaziflam + isoxaflutol
Isoxaflutol + thiencarbazone methil
MSMA + diurom
Piroxasulfona + flumioxazina
S-metolacloro + flumioxazina
S-metolacloro + metribuzim
Resistência a herbicidas: no Brasil, há dois relatos de resistência de picão-preto da espécie Bidens pilosa a herbicidas. Ocorrem em contexto de soja e milho e se referem aos herbicidas imazetapir, imazaquim, piritiobaque-sódico, clorimurom-etílico e nicossulfurom em um biótipo, enquanto o outro mostrou-se resistente a imazetapir e atrazina.
Conheça mais plantas daninhas:
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Literatura consultada:
EPPO Global Database. Disponível em: https://gd.eppo.int/. Acesso em: 27 abr. 23.
KISSMANN, K. G.; GROTH, D. Plantas infestantes e nocivas – TOMO II. São Paulo: BASF Brasileiras S.A., 1992. 798 p.
LORENZI, H. Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas, parasitas e tóxicas. 3. ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2000. 607 p.
TROPICOS ORG. Missouri Botanical Garden. Disponível em https://www.tropicos.org/home. Acesso em: 27 abr. 23.