Feijão, cana-de-açúcar, pomares, pastagens, jardins, milho, arroz de sequeiro e até irrigado. Os relatos de infestações de braquiária não param por aí. Mas engana-se quem pensa no gênero Urochloa apenas como planta daninha.
Aliás, é preciso relembrar que o gênero foi reclassificado. Antes, chamava-se Brachiaria!
Isso mesmo, espécies de braquiária como U. brizantha (braquiarão, capim-marandu), U. decumbens (capim-braquiária) e U. humidicola, por exemplo, são amplamente cultivadas como forrageiras e coberturas de solo em regiões tropicais do país.
No entanto, nosso foco hoje é a mais popular das braquiárias: Urochloa plantaginea (BRAPL). Planta daninha que você também deve conhecer por papuã, capim-marmelada, grama paulista, capim-doce e muitos outros nomes comuns.
Como reconhecer
Gramínea de ciclo anual, cresce vigorosamente no verão. Quando plântulas, a emergência é típica da subfamília Panicoideae. Ou seja, a primeira folha é paralela em relação ao solo. Além disso, a proporção largura/comprimento da folha é maior do em outras gramíneas (Figura 2).
No crescimento inicial, os colmos são prostrados, ocorrendo o enraizamento dos nós. Com o desenvolvimento, os colmos tornam-se mais eretos, podendo alcançar até 1 m. Dessa forma, é comum encontrar densas infestações de braquiária.
A bainha, a parte da folha que envolve o colmo, possui uma abertura longa. A lígula é membranácea e ciliada. A aurícula é bem desenvolvida, chegando quase a abraçar o colmo. As folhas, verde claras, não tem pelos e as bordas são levemente serrilhadas (Figura 3). É só passar o dedo ao contrário que você sente!
Na extremidade de cada ramificação do colmo, você encontrará uma panícula, constituída normalmente por cinco rácemos inseridos em diferentes alturas e dispostos alternadamente. As espiguetas, com as cariopses (fruto), são dispostas em apenas um lado do eixo (Figura 4).
Onde encontrar
Cosmopolita, a braquiária está distribuída por todo o país. Embora a África seja apontada como o centro de origem, hoje a espécie é naturalizada em regiões tropicais e subtropicais do mundo.
Além disso, é apontada como pioneira em ambientes perturbados. Ou seja, é uma das primeiras espécies que se estabelecem após o revolvimento do solo, por exemplo. Isso, porque a espécie se adapta bem à uma diversidade de ambientes, dos mais secos até várzeas.
Ou seja, você vai encontrá-la como planta daninha nas mais diversas culturas.
Biologia e ecologia
Habilidade competitiva, alta produção de sementes, formação de bancos de sementes persistentes e alelopatia são características frequentes, quando se fala de U. plantaginea.
No entanto, diferente das espécies perenes de braquiária, utilizadas como forrageiras, o ciclo de vida de U. plantaginea varia de quatro a seis meses. O metabolismo do tipo C4 e a alta plasticidade ambiental favorecem o rápido crescimento em estações quentes e secas.
A produção de sementes é vigorosa e há relatos de viabilidade no solo por períodos que variam de 5 a 10 anos. Em convívio com milho, trabalhos registraram a produção de aproximadamente 7 mil sementes por m². Porém, cabe ressaltar que a produção de sementes é fortemente atrelada às condições ambientais.
Braquiária como planta daninha
Com desenvolvimento rápido e intenso perfilhamento, a braquiária forma densas touceiras, com alta capacidade de supressão. Como resultado, acaba sendo a espécie dominante na flora daninha. Por outro lado, tal habilidade favorece a proteção do solo, quando utilizada como cobertura.
Em soja, Fleck (1996) relata perdas de 18 a 82% para densidades de 70 a 780 plantas/m² de braquiária. Ainda, estimou um incremento de 4,8% de perdas no rendimento para cada 100 plantas/m² da daninha.
Trabalhos relatam perdas na produtividade, que giram entorno de 80%, quando 100 plântulas de braquiária/m² competem com milho.
Manejo
Considerando as características da braquiária, uma estratégia de manejo deve ser impedir o estabelecimento da infestação. No entanto, evitar perdas pela interferência não deve ser o único objetivo.
A produção de sementes de escapes também deve ser monitorada e evitada. Isso, porquê além de garantir a infestação em um novo ciclo, garantem a perpetuação de genes de resistência à herbicidas.
Para se ter uma ideia, Khatounian et al. (2016) traçaram um paralelo entre a produção de sementes de braquiária a partir dos fluxos emergidos após o controle na cultura do milho, com a população utilizada para a implantação das braquiárias forrageiras.
Nessas condições, a braquiária daninha (U. plantaginea) chegou a produzir 360 sementes/m². Na densidade de 10 kg/ha, são semeadas entorno de 300 sementes/m² das braquiárias forrageiras!
Por isso, herbicidas pré-emergentes e residuais devem ser utilizados sempre que possível. Assim como, outros métodos de manejo como capina e roçada, conforme o sistema de cultivo.
Além disso, a manutenção das sementes na superfície, como acontece em sistemas de plantio direto, favorece sua mortalidade. Por outro lado, o revolvimento do solo promove a incorporação das sementes em profundidades que favorecem a manutenção da viabilidade.
Herbicidas como ametrina, clomazona, diuron, hexazinona, isoxaflutole, oxifluorfem, quincloraque, sulfentrazone e trifluralina são exemplos de pré-emergentes eficazes no controle. Em pós-emergência, glufosinato, cletodim, fenoxaprope-P-etílico, glifosato e imazapir, dentre outros, também são recomendados.
Vale ressaltar que o controle químico sempre deve ser prescrito por um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).
Resistência de braquiária a herbicidas
No Brasil, em 1997, foi relatado um biótipo resistente a herbicidas inibidores de ACCase, em lavoura de soja no Paraná. Dentre os herbicidas, estão haloxifope-P-metílico, diclofope-metílico, fluazifope-P-butílico, propaquizafope, quizalofope-P-etílico, fenoxaprope-P-etílico, setoxidim, butroxidim.
Inclusive, esse é o único relato de resistência da espécie, em nível mundial, segundo o International Herbicide-Resistant Weed Database.
E você, conhece essa planta como daninha ou forrageira? Compartilha esse artigo e faz o conhecimento chegar a mais pessoas!
Literatura consultada
BOLDRINI, I. I. et al. Morfologia e taxonomia de gramíneas Sul-Rio-Grandenses. Ed. 1. Porto Alegre, Editora da UFRGS. 2005. 96 p.
FLECK, N. G. Interferência de papuã (Brachiaria plantaginea) com soja e ganho de produtividade obtido através do seu controle. Pesquisa Agropecuária Gaúcha, v.2, n.1, p. 63-68, 1996.
HEAP I. The International Herbicide-Resistant Weed Database. Online. Thursday, August 5, 2021. Available www.weedscience.org.
KHATOUNIAN, Carlos Armênio et al. Seed production of Urochloa plantaginea (Link) R. Webster infesting maize and in pure stands. Revista Brasileira de Agroecologia, [S.l.], v. 11, n. 4, p. 281-288, 2016.
MOREIRA, H. J. C.; BRAGANÇA, H. B. N. Manual de identificação de plantas infestantes, Cultivos de versão. Campinas-SP, 2010. 642 p.