controle pobre de plantas daninhas devido a baixa qualidade da agua da calda de pulverizacao - Controle abaixo do esperado? Pode ser a qualidade da água da calda

Controle abaixo do esperado? Pode ser a qualidade da água da calda

Quanto de água tem dentro do seu tanque de pulverização? Aproximadamente 90 a 95% da calda é água. Você sabia que mesmo que a escolha dos produtos e a aplicação tenham sido excelentes, a qualidade da água pode afetar o controle resultante? 

É comum que a qualidade da água influencie na efetividade de controle de herbicidas, inseticidas e fungicidas, aumentando a frequência de escapes. Uma infinidade de fatores pode estar mascarando a interferência de uma água de baixa qualidade na sua aplicação!

Problemas na performance dos agroquímicos utilizados na lavoura podem não ser óbvios. Principalmente se você não costuma manter uma testemunha para fins de comparação. Nesse artigo, apresento os atributos da água que podem afetar a eficácia de controle, quando avaliar e como corrigir. 

Atributos da qualidade da água que podem afetar a aplicação

Detritos

Inclui materiais que estão flutuando na água como folhas, pequenos gravetos, sementes, pequenos cascalhos, areia e outros materiais sólidos semelhantes. São mais comuns em água de rios e são retidos pelos filtros, se estes estiverem adequados (Figura 1). Caso contrário, o resultado é o entupimento de filtros menores, mangueiras, tubulações e pontas de pulverização.

Filtros com folhas 1 - Controle abaixo do esperado? Pode ser a qualidade da água da calda
Figura 1 – Fragmentos de folhas afetam a qualidade da água e devem ser retidos pelos filtros.

Sólidos suspensos

Silte, argila e matéria orgânica condicionam a turbidez da água e decantam no fundo do tanque quando em repouso. Águas turvas são comuns em rios, barragens e açudes que recebem sedimentos provenientes da erosão do solo.

Minerais dissolvidos

Todas as fontes de água possuem algum nível de bicarbonatos, sulfatos, cloretos e nitratos de cálcio e magnésio dissolvidos, que resultam do contato da mesma com o solo. Diferente dos sólidos suspensos, os minerais não decantam no fundo do recipiente quando a água está em repouso.

A concentração desses minerais é chamada de dureza da água. Quanto maior, em partes por milhão (ppm) mais dura é a água. Acima de 320 ppm de carbonato de cálcio (CaCO3), a água já é considerada dura ou salobra, como é comumente chamada. Esse valor equivale a 18 graus de dureza (ºd).

Em geral, as águas coletadas de açudes e rios são brandas (até 142 ppm de CaCO3). No entanto, as águas subterrâneas profundas frequentemente são duras. Em regiões sob influência marítima, a água também pode conter maiores teores de sódio e cloreto de cálcio, sendo considerada salina.

pH da água

O valor do pH descreve a acidez (concentração dos íons de hidrogênio) ou a alcalinidade (concentração dos íons hidroxila) de qualquer solução. O pH varia de 0 a 14 e valores abaixo de 7 são considerados ácidos, iguais a 7, neutros e acima, alcalinos.

A temperatura e a composição da água (concentração de sais, ácidos, metais, etc.) influenciam no pH.

É muito importante entender que pequenas variações no valor do pH representam alterações múltiplas de 10 na concentração dos íons hidrogênio. Por exemplo, um pH de 4 é 10 vezes mais ácido do que um pH de 5 e 100 vezes mais ácido que um pH de 6. 

Impacto da qualidade da água na performance dos agroquímicos 

Os agroquímicos possuem diversas características. Dentre elas estão o coeficiente de sorção (Kd) e o coeficiente de sorção ao carbono orgânico do solo (Koc). Ambas refletem quão fortemente o ingrediente ativo se liga às partículas do solo.

Logo, para herbicidas com altos valores de Kd e Koc, o teor de sólidos em suspensão ou turbidez é uma característica muito relevante, quando se fala em qualidade da água.

Glifosato (Koc = 24000 mL/g e Kd = 324 a 600 mL/g) e diquate (Koc = 1000000 mL/g) são exemplos de herbicidas fortemente afetados por águas turvas.

Crucial, Glyphotal TR e Roundup são exemplos de marcas comerciais a base de glifosato. Já Helmoquat e Reglone possuem dibrometo de diquate como ingrediente ativo.

Além desses herbicidas, os inseticidas bifentrina, cipermetrina, permetrina e lambda-cialotrina também possuem Koc elevados. Portanto, são passíveis de ter a eficácia reduzida em águas turvas.

E a dureza?

Assim como os sólidos em suspensão, a dureza da água também reduz a disponibilidade de moléculas de agroquímicos disponíveis para serem absorvidas pelo alvo. Ou podem reduzir a velocidade do processo de absorção.

Essas reações químicas são similares a polaridade de um imã, onde os opostos se atraem. Nesse caso, os agroquímicos com cargas negativas são atraídos pelos cátions presentes na água salobra. Glifosato e 2,4-D, por exemplo, podem ser afetados.

O total de sólidos dissolvidos (TDS) contempla os sais inorgânicos e algumas quantidades vestigiais de matéria orgânica dissolvidos em água e significam cargas elétricas disponíveis para reagir com os produtos adicionados à calda. Assim, existe uma relação diretamente proporcional entre TDS e a condutividade elétrica da água, medida em micro-Siemens por centímetro (μS/cm).

Diversos informativos técnicos de extensão relatam que condutividades elétricas de até 500 μS/cm não interferem na performance dos agroquímicos. E, ainda, que a maioria das formulações seria desenvolvida para contornar esses valores.

Esteja atento ao pH

É consenso que a maioria dos herbicidas, fungicidas e inseticidas performam melhor quando o pH da calda se encontra entre 4 e 6,5. Isso ocorre porque alguns ingredientes ativos se comportarem como ácido fraco (pKa) ou base fraca (pKb) e tem sua carga química dependente do pH, após entrarem em contato com a calda.

Isso quer dizer que a habilidade, por exemplo, de um herbicida ácido fraco, em atravessar os tecidos das plantas daninhas e alcançar seu sítio de ação em concentração suficiente pode ser comprometida. Como resultado, ocorre redução da eficácia de controle. 

Em pHs alcalinos (acima de 7), favorecidos por temperaturas elevadas, podem ocorrer a hidrólise alcalina, causando a degradação das moléculas. Diversos trabalhos relatam esse processo com fungicidas e inseticidas.

Ou seja, o pH afeta a estabilidade química do ingrediente ativo. Consequentemente, pode influenciar a estabilidade física da calda, resultando em precipitações e entupimentos. 

Para algumas moléculas esse fator é tão importante que seus formuladores adicionam agentes tamponantes. O objetivo é manter o pH da calda dentro da faixa adequada para a maior eficácia do produto. 

Outros indicam na bula, a necessidade de avaliar a qualidade da água e realizar ajustes na calda (Figuras 2 e 3).

Recomendacao de bula quanto a qualidade da agua - Controle abaixo do esperado? Pode ser a qualidade da água da calda
Figura 2 – Recomendação da bula do herbicida Pistol 106 SL (imazetapir, 100 g/L de equivalente ácido), quanto aos requerimentos de qualidade da água.
Bula Dipel - Controle abaixo do esperado? Pode ser a qualidade da água da calda
Figura 3 – Recomendação da bula do inseticida microbiológico Dipel (Bacillus thuringiensis, var. kurstaki, linhagem HD-1, 33,60 g/L).

Como avaliar a qualidade da água?

Infelizmente, a maioria das bulas ainda não trazem considerações sobre a qualidade da água. Mas, devido aos motivos já apresentados, é muito importante que você conheça as características das fontes de água que costuma utilizar na pulverização.

A qualidade da água, de forma bem mais ampla, pode ser determinada em laboratório. Normalmente, os laudos contemplam os seguintes ensaios:

  • > alcalinidade total;
  • > ânions (bicarbonato, carbonato, cianeto, cloreto, fluoreto, nitrato, nitrito e sulfato);
  • > cloro residual livre;
  • > dureza total;
  • > físicos (condutividade, turbidez, pH, cor);
  • > matéria orgânica;
  • > metais (Al, Ca, Cd, Cr, Cu, Fe, K, Mg, Mn, Na, Pb, Zn);
  • > sólidos totais e sólidos totais dissolvidos.

Cabe sempre entrar em contato com o laboratório escolhido para obter informações sobre o método de coleta e o recipiente ideal para o armazenamento da amostra.

Por outro lado, para alcançar a melhor performance de um agroquímico, as informações obtidas através de um teste rápido para análise de água dão conta do recado. Obviamente, os testes realizados em campo, apresentam um menor rigor, quando comparados aos laboratoriais. Da mesma forma, a acurácia dos resultados depende do atendimento das recomendações do fabricante.  

Tiras de teste

As tiras de teste de água (Figura 4) são facilmente encontradas em lojas que vendem produtos para manutenção de piscinas, hidroponia ou em plataformas virtuais. Após a inserção da tira na amostra de água, pelo tempo recomendado pelo fabricante, os resultados são obtidos pela da comparação das cores com a escala fornecida na embalagem.

Nesse tipo de teste, normalmente o resultado é expresso em faixas de valores inteiros. Ou seja, você terá a medida de pH de 5 e não 5,7.

Tiras de teste da qualidade da agua - Controle abaixo do esperado? Pode ser a qualidade da água da calda
Figura 4 – Exemplo de tiras de teste para qualidade da água. Fonte: Mercado Livre.

 Medidor de pH digital

Também é possível utilizar pHmetros digitais portáteis (Figura 5). Além do pH, alguns equipamentos são capazes de realizar a medida de múltiplos parâmetros, como condutividade, total de sólidos dissolvidos (TDS), salinidade e temperatura (Figura 6). Dê preferência a equipamentos com eletrodo de vidro.

Medidor de pH - Controle abaixo do esperado? Pode ser a qualidade da água da calda
Figura 5 – Medidor de pH portátil + soluções de calibração. Fonte: site do fabricante
Peagametro - Controle abaixo do esperado? Pode ser a qualidade da água da calda
Figura 6 – Kit Medidor multiparâmetro + soluções de calibração. Fonte: site do fabricante.

Quando avaliar a qualidade da água?

Os atributos de águas subterrâneas variam menos, ao longo do tempo, do que de águas superficiais. Períodos com chuvas abundantes podem aumentar os sólidos em suspensão, assim como, em períodos de seca, a concentração de minerais dissolvidos pode ser maior. Consequentemente, a qualidade das águas superficiais oscila mais. 

Por isso, é conveniente que você avalie a qualidade da água das fontes usadas com antecedência.

Dessa forma, será possível prever a necessidade, por exemplo, de decantação, sistemas de filtragem mais robustos ou adjuvantes e condicionadores específicos para favorecer a estabilidade e performance de misturas. E, em casos mais específicos, buscar fontes de água alternativas.

No entanto, a medida do pH deve ser tomada da calda, uma vez que a adição dos agroquímicos altera essa característica. Sim, é a medida final que importa!

Como contornar os problemas resultantes de uma água de baixa qualidade?

Esteja atendo à qualidade do sistema de filtragem do pulverizador, desde a coleta na fonte de água, até as pontas de pulverização.

Uma vez constatada a dureza, recomenda-se adicionar à água, adjuvantes que apresentam a capacidade de sequestrar os cátions dissolvidos. Produtos que contém ácido cítrico, ácido fenólico e EDTA (ácido etilenodiamino tetra-acético), por exemplo, atuam como quelantes, impedindo que os minerais se liguem aos agroquímicos. Esses produtos devem ser adicionados antes da formação da calda.

Além disso, trabalhos recomendam usar maior concentração de herbicidas em águas duras. Isso é feito aumentando a dose do herbicida e reduzindo o volume de calda, dentro do preconizado pela bula. 

O pH da calda deve ser medido e ajustado após a adição de todos os produtos. Para isso, o ideal é utilizar um balde graduado (Figura 7). Retire um volume conhecido de calda do tanque e corrija o pH para o valor desejado. Após, repita a proporção no restante da calda, sempre com a agitação ligada. 

Esse procedimento evita grandes desvios ocasionados pela “tentativa e erro”, além de preservar o maior volume de calda. Imagina comprometer 2 a 3 mil litros de calda?! Já a quantidade necessária do agente acidificador deve seguir as recomendações do fabricante.

Balde qualidade da agua - Controle abaixo do esperado? Pode ser a qualidade da água da calda
Figura 7 – Balde graduado usado para medir agroquímicos na preparação da calda de pulverização. Fonte: site do fabricante.

A temperatura da água importa?

Extremos sempre podem comprometer a estabilidade da calda. No entanto, temperaturas de água inferiores à 10ºC, tem sido relatadas por dificultar misturas com pós-molháveis e grânulos dispersíveis. A pré-diluição em um balde com água morna soluciona, na maioria das vezes, essa dificuldade.

É importante ressaltar que cada calda é única. Isso porque resultam da qualidade da água, de doses, ingredientes ativos, formulações e de uma miríade de resíduos no tanque de pulverização. Esteja sempre atento e registre cada preparação de calda e aplicação. Essas informações são importantes para a compreensão e solução de possíveis problemas.

Literatura consultada:

Grazziero, D. L. et al. Manual técnico para subsidiar a mistura em tanque de agrotóxicos e afins. Embrapa Soja, Documentos 437, 2021. 24 p.

Griggin, J. L. Water quality effects on pesticides. Lousiana Agricultural Technology and Management Conference, 2009. Disponível em: http://www.laca1.org/Presentations/2009/WaterQualityEffects2009.pdf. Acesso em: 08 mar 2022.

Vogue, P. A.; Kerle, E. A.; Jenkins, J. J. OSU Extension Pesticide Properties Database. NPIC – National Pesticide Information Center. Disponível em: http://npic.orst.edu/ingred/ppdmove.htm. Acesso em: 08 mar 2022.

Williamson, K. Water quality for mixing herbicides. Agri-Facts: Pratical information for Alberta’s Agriculture Industry. Disponível em: www.agriculture.alberta.ca. Acesso em: 09 mar 2022.

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