Plantas de buva 14 dias após a aplicação de saflufenacil.

Quem é o saflufenacil no manejo de plantas daninhas?

Usado para o controle em pré e – principalmente – em pós-emergência de diversas plantas daninhas, o saflufenacil é uma opção quando se fala em resistência e tolerância ao glifosato. Além disso, na cultura do arroz irrigado, contribui para o difícil manejo da resistência a inibidores da ALS.

Como o saflufenacil controla as plantas? 

Pertencente ao grupo químico pirimidinadiona, o herbicida é um inibidor de protoporfirinogênio oxidase (PROTOX), grupo E segundo o HRAC. 

Os herbicidas portadores desse mecanismo de ação, inibem a formação de clorofila e heme, na rota biossintética dos tetrapirróis. Mas não é exatamente por isso que as plantas morrem!

Resumidamente, a PROTOX catalisa a oxidação do protoporfirinogênio IX para protoporfirina IX. Nas plantas sensíveis, o herbicida, de forma competitiva, inibe a enzima, ocupando o sítio de ligação do protoporfirinogênio IX.

Esse substrato se acumula nas organelas e então se difunde para o citoplasma, onde é metabolizado para protoporfirina IX, que é fotodinâmica. Ou seja, capaz de absorver luz! Na presença de oxigênio e luz, ocorre a produção de oxigênio singleto, uma potente espécie reativa que dá início a uma reação em cadeia de peroxidação lipídica, que danifica as membranas.

Esse processo irreversível culmina no extravasamento do conteúdo celular e na rápida morte dos tecidos.  

Usos do saflufenacil

O herbicida possui registro para as culturas da acácia-negra, algodão, arroz, arroz irrigado, banana, batata, café, cana-de-açúcar, citros, eucalipto, feijão, girassol, maçã, mamona, manga, milho, pastagens, pinus, seringueira, soja e trigo.

O momento de aplicação varia de acordo com a cultura, sendo o uso como dessecante das plantas daninhas em pré-semeadura, a modalidade predominante. No entanto, em culturas como o arroz irrigado, pode ser utilizado em pré e pós-emergência.

Além disso, pode ser posicionado como pré-emergente da cultura e plantas daninhas do milho e em jato dirigido na cana-de-açúcar, algodão e florestais. O uso como dessecante para a antecipação e uniformidade na colheita também é possível.

Dentre os alvos registrados, estão espécies de eudicotiledôneas (“folhas largas”) como carurus, losnas, vassourinha-de-botão, trapoeraba, buvas (Figura 1), corriolas, erva-quente e picão. O herbicida também possui efeito sobre sagitária (monocotiledônea) e o uso em misturas de tanque para o controle de gramíneas também é relatado em trabalhos científicos. 

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Figura 1 – Plantas de buva, 7 dias após a aplicação de saflufenacil.

Características físico-químicas e comportamento nas plantas

O herbicida é ativo em doses relativamente baixas. No entanto, dependendo do alvo, cultura e posicionamento, as doses podem variar de 20 a 560 g de p.c./ha. 

Saflufenacil chegou ao mercado com uma nova proposta: um inibidor de PROTOX com maior mobilidade na planta!

Isso, porque os portadores desse mecanismo de ação são reconhecidos pelo alto Kow, conferindo imobilidade nos tecidos e ação de contato. Um exemplo é o oxadiazon com seu Kow de 63100 (log Kow = 4,8).

Nós já falamos sobre mobilidade de herbicidas no Instagram e no Facebook.

Diferentemente, o saflufenacil apresenta características físico-químicas que viabilizam mobilidade, como um Kow de 368,2 (log Kow = 2,57), considerado intermediário. Além disso, o herbicida apresenta funcionalidade acídica, com pKa de 4,41. Isso faz com que sua solubilidade em água seja influenciada pelo pH da calda, variando de 30 a 2100 mg/L, em pH 5 e 7, respectivamente.

No entanto, trabalhos têm demonstrado reduzida movimentação do saflufenacil no floema (<5% do absorvido). Assim, o herbicida pode ser absorvido pelas raízes e parte aérea e a translocação ocorre, predominantemente, pelo xilema, com algum movimento pelo floema. Porém, como resultado da rápida ação dos inibidores de PROTOX na presença de luz, o herbicida é frequentemente considerado como de contato, quando aplicado na parte aérea.

Saflufenacil + Glifosato

Ainda, a mobilidade desse e de outros ingredientes ativos como o glifosato é alterada quando em misturas de tanque, em função da dose, proporção na mistura, adjuvantes e pH da calda. Tem sido demonstrado por meio de cintilografia, que saflufenacil reduz a translocação de glifosato. Assim como, glifosato em formulações sal de isopropilamina (Transorb), rapidamente absorvíveis, reduz ainda mais a translocação simplástica (floema) do saflufenacil, em razão dos efeitos na assimilação do carbono. O que não seria um problema, quando se trata do controle de plantas daninhas resistentes e tolerantes ao glifosato.

Por outro lado, há relatos de que saflufenacil aumenta a velocidade de absorção do glifosato nas formulações sal de isopropilamina e sal de amônio (WG). Inclusive, há registros de sinergismo no controle de buva. Dessa forma, a mecânica das interações entre os dois herbicidas não é passível de generalizações. 

Tanto que, trabalhos têm demonstrado que glifosato e saflufenacil apresentam eficiência ótima em faixas distintas de pH da calda. O primeiro em pH de 4,0 a 5,0, enquanto o segundo em pH entorno de 6,5. Ou seja, a faixa de pH ideal para o glifosato reduz a solubilidade e eficácia do saflufenacil.

Assim, alguns trabalhos indicam aumento da dose de saflufenacil, quando realizada a mistura em tanque com formulações de glifosato capazes de tamponar o pH da calda. Porém, atente para o risco de injúria nas culturas semeadas a seguir!

Para saber mais sobre as interações que podem ocorrer nas misturas de herbicidas em tanque, clique aqui.

Comportamento no solo

Saflufenacil não é volátil e degrada-se rapidamente no ambiente. No entanto, a biodisponibilidade é influenciada pelas características do solo. A concentração do herbicida, seja para ação pré-emergente ou residual (carryover) para culturas sensíveis é dependente, principalmente, do conteúdo de matéria orgânica. Porém, textura e pH também podem influenciar em menor escala.

Com Koc de 9 a 56 mL/g, de modo geral, quanto maior o teor de matéria orgânica, menor a biodisponibilidade. Já a textura influencia no conteúdo gravimétrico. Solo arenoso armazena menos água, por isso, maior é a concentração de herbicida na solução do solo.

Já o pH do solo influencia no estado iônico do herbicida. Com pKa de 4,41, em solos com pH acima desse valor, a forma predominante do herbicida é a dissociada (aniônica). Assim, é repelido pelas cargas negativas do solo, aumentando sua concentração na solução.

A persistência pode variar de 1 a 36 dias. Porém, recomenda-se pelo menos 10 dias entre a aplicação e a semeadura da soja, em solos com teores inferiores a 2% de matéria orgânica e 30% de argila.

Manejo da resistência

Saflufenacil é amplamente utilizado no manejo pré-semeadura, seja em misturas de tanque ou em aplicações sequenciais para o controle de buva resistente a glifosato. No entanto, em 2017 foram relatados casos de resistência ao herbicida (Conyza sumatrensis).

Cabe ressaltar que nenhuma iniciativa química se sustenta quando usada como ferramenta exclusiva. Devendo, para a preservação da sua vida útil, ser parte de um programa de manejo integrado de plantas daninhas. Para tal, consulte sempre um(a) engenheiro(a) agrônomo(a).


Conheça e aplique melhor é uma série de conteúdos do WeedOut que apresenta as principais características técnicas que influenciam na performance dos herbicidas. Para ver todas as publicações dessa categoria, clique aqui.


Literatura consultada

ASHIGH, J., HALL, J. C. Bases for interactions between saflufenacil and glyphosate in plants. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 58, n. 12, p. 7335-7343, 2010.

COSTA, A. C. R. et al. Action of rain on formulations of glyphosate mixed with saflufenacil for the control of Brachiaria decubens. Arquivos do Instituto Biológico, v. 84, p. 1-8, 2017.

DALAZEN, G. et al. Sinergismo na combinação de glifosato e saflufenacil para o controle de buva. Pesquisa Agropecuária Tropical, v. 45, p. 249-56, 2015.

GROSSMANN, K. et al. Saflufenacil (Kixor™): Biokinetic properties and mechanism of selectivity of a new Protoporphyrinogen IX Oxidase inhibiting herbicide. Weed Science, v. 59, n. 3, p. 290-298, 2011.

GROSSMANN, K. et al. The herbicide saflufenacil (Kixor™) is a new inhibitor of protoporphyrinogen IX oxidase activity. Weed Science, v. 58, n. 1, p. 1-9, 2010.

RODRIGUES, B. N., ALMEIDA, F. S. Guia de Herbicidas. 7ª ed.  Londrina, 2018. 764 p.

ROSKAMP, J. M., JOHNSON, W. G. The influence of adjusting spray solution pH on the efficacy of saflufenacil. Weed Technology, v. 27, n. 3, p. 445-447, 2013.

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